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Quinta-feira, 27/9/2001
E o tempo nos enterra

Julio Daio Borges




Digestivo nº 52 >>> Memórias Póstumas, de André Klotzel, resiste bravamente e continua em cartaz nas salas de São Paulo. Por três possíveis razões. Ou porque querem “dar uma força” ao Cinema Nacional (expressão que causa calafrios em algumas pessoas). Ou porque existe um acordo de cotas que, por meio de certas “leis de incentivo”, obrigam os exibidores a mantê-lo lá. Ou então porque o filme é bom mesmo e a platéia o tem prestigiado, semana após semana. É preferível (e razoável) acreditar nessa última hipótese. Afinal, assistir a Memórias Póstumas não é como ler Machado de Assis (coisa que nenhum longa jamais virá a ser), mas evoca com respeito um dos “founding fathers” da Literatura Brazuca. Reginaldo Faria está num de seus melhores papéis desde Jacques Le Clerc (ou Le Clerk? ou Le Clair?, de 1985). Continua com o mesmo topete e o mesmo sorriso malicioso, que cai absolutamente bem no “caráter geral” do brasileiro médio – que, mesmo mal intencionado, falha em tudo, até nos golpes que planeja dar. O Lobo Neves não podia ser mais lobo, nem mais Neves. (Aí entra uma outra questão. Um paradoxo. Alguém já teorizou a respeito, e tem considerável parcela de razão, quando diz que atores bem escolhidos tiram metade do “barato” de quem pretende ler o livro depois do filme.) Mas, voltando: Marcela não está bem representada por Sonia Braga (musa recorrente, mas que não deveria ser mais, tudo tem sua hora para acabar). Em linhas gerais é isso. O longa segue as principais “cenas” da obra de Machado, mas não teria (nenhum filme teria) como reproduzi-las todas textualmente. Que algumas frases sejam preservadas já é uma glória. Que mais pessoas voltem a conviver com o bruxo do Cosme Velho é, portanto, uma glória ainda maior. Mil vivas ao defunto autor.
>>> http://www.memoriaspostumas.com.br/
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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