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Quinta-feira, 22/11/2001
Obrigado por desconfiar de mim

Julio Daio Borges




Digestivo nº 58 >>> Mater Dei é o novo filme dos Irmãos Mainardi. Não adianta muito vê-lo tendo em vista o colunista de Veja, Diogo Mainardi. Com um talento inegável para o articulismo e para a literatura, por quê se meter em cinema? É o que ficamos nos perguntando depois de sair da sala de um desses multiplex. Não que o longa seja ruim. Acontece que não chega a produzir nem um décimo do efeito de um livro ou coluna mais inspirada do escritor-cineasta. Deixando de lado as comparações entre a sétima e as demais artes, constata-se que Mater Dei é um filme bem feito, tecnicamente razoável. Surpreendente até, se for considerado o fato de que foi totalmente financiado por pessoas físicas, nenhuma empresa privada ou estatal. Conta a história dos próprios Irmãos Mainardi que, atrás de um patrocinador, acabam se metendo numa disputa de poder entre um juiz e um empresário. Em meio a mortos e feridos, sobra a mulher do último, que, grávida, deve sacrificar seu filho para apaziguar os ânimos do primeiro. Ela é Carolina Ferraz, que não aceita os termos do pacto sangrento e que, para proteger seu bebê, foge para a casa dos Irmãos Mainardi. Mater Dei se desenvolve a partir dessa confusão. Bem no estilo do Polígono das Secas (livro de Diogo), o filme é interrompido algumas vezes para inserir considerações sobre o próprio, usando de metalinguagem. Nesse aspecto, lembra os experimentos de Godard, limitando o envolvimento do espectador com a trama. Rompe com o esquema maniqueísta tradicional, ao mostrar que as vítimas (os Irmãos Mainardi) não são muito melhores que os seus algozes (o juiz e o empresário). Ou seja: os oprimidos julgam-se moralmente superiores, dada a sua condição, mas basta uma oportunidade para que se revelem tão desprezíveis quanto os seus opressores. É o tal adágio rodriguiano: o brasileiro, quando não é canalha na véspera, é canalha no dia seguinte. Uma conclusão interessante, mas Mater Dei poderia chegar ao mesmo resultado sendo menos caricato e mais sutil. De tão violento e agressivo, vai certamente espantar o público pagante. Por mais que posem de céticos e cínicos, acredita-se que Diogo e Vinícius não queiram fracassar desta vez.
>>> Mater Dei
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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