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Terça-feira, 27/11/2001
Te ganhar ou perder sem engano

Julio Daio Borges




Digestivo nº 58 >>> O álbum laranja de Zizi Possi passou desapercebido pela imprensa e pela crítica especializada. Malgrado o pendor italiano (que há muitos incomoda), a cantora vem se consagrando como uma das grandes intérpretes brasileiras da atualidade. Para aqueles que estavam cansados de suas incursões por “Terra Nostra”, Bossa (apesar do título desgastado) chega como um antídoto à internacionalização. Sua intenção primordial é homenagear alguns grandes compositores de MPB, em ritmo de João Gilberto, mas amparada por uma produção instrumental digna das incursões anteriores (em italiano). Alcança, portanto, boas versões de Preciso Dizer Que Te Amo (Cazuza), Qualquer Hora (João Linhares), Capim (Djavan) e até a exaustivamente revisitada Caminhos Cruzados (Tom Jobim e Newton Mendonça). O cuidado excessivo das cordas e da voz aveludada, no entanto, resultam em visões açucaradas de Yesterday (a mais tocada do mundo), Sabrás Que Te Quiero (abolerada, sugerindo um próximo CD em espanhol?) e Eu Só Sei Amar Assim (quase um hino “teen” de Herbert Vianna). Zizi Possi atingiu a maturidade que lhe permite amarrar temas cujo único ponto em comum é a sua vontade de interpretá-los. Acontece que a autoconfiança também conduz grandes artistas a grandes enganos. “Bossa” equilibra-se delicadamente entre a originalidade de um ponto-de-vista novo e a mesmice de um irresistível clichê. O encarte preza o tom solene, com a prima-dona em trajes de femme fatale. Transpira um ar de lassidão e desprendimento que não combinam com a profissional detalhista, estruturando projetos e shows com o toque final do irmão talentoso, José Possi Neto. “Bossa”, em resumo, não é o esperado retorno ao Brasil. Nem a resposta definitiva ao cancioneiro latino. Logo logo, Zizi Possi vai ter de optar.
>>> Zizi Possi
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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