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Segunda-feira, 11/3/2002
Coisa de Artistas

Julio Daio Borges




Digestivo nº 72 >>> Cada um entrou, fez com ela o que quis, depois saiu. Parece a história da Maria Madalena? Parece a história da Terra Brasilis? Parece... mas não é. Trata-se da história da televisão brasileira. Depois de 50 anos de aviltamento, esboça-se uma reação orquestrada – por parte da classe artística –, contra a proliferação dos “reality shows”, essa excrescência. De Gianni Ratto a Rita Lee, de Marília Pêra a Raul Cortez, de Marcos Mion a Sílvio de Abreu, de repente, todo mundo resolveu se indignar diante de um microfone (quando ele surge): porque “assim não dá”; porque “isso é um absurdo”; porque “onde é que nós vamos parar?”; porque “a que nível chegamos?”. Tudo bem. De fato, ninguém discute a real crise do meio televisivo. Acontece porém que a “exploração do corpo da mulher” sempre esteve aí (desde as chacretes, pelo menos); os estupidificantes “programas de auditório” sempre estiveram aí (desde Flávio Cavalcanti, ao menos); e a teledramaturgia de “quinta categoria” sempre esteve aí, do mesmo jeitinho (desde a xaropada até a canastrice, nem é preciso citar nomes). Por que então – só agora – pisaram no calo de tanta gente que, durante tanto tempo, sobreviveu às custas do gosto médio (ou baixo) da telinha? O raciocínio é simples: com a explosão dos “big brothers” da vida, ficou provado que essa longa caminhada (na verdade, um cinqüentenário de traseiros, animadores e dramalhões) resultou numa fórmula que hoje prescinde de certos recursos obsoletos, tais como: o “ator”, o “diretor”, o “roteiro”, e – no auge da evolução – até mesmo o “público”. Assim, de uma hora para outra, todos aqueles “monstros sagrados” (que bem conhecemos) se viram na iminência de perder o emprego, e se lançaram numa cruzada para restaurar antigos “padrões de qualidade”. Por mais que tentem, contudo, estão velhos e sem energia; e essa onda, de voyeurismo, é mundial e irreversível. A tevê (ou a TV, como dizem) está destinada aos mascates; será tomada como a Praça da Sé. Até porque as novas gerações de cérebros, há muito, desistiram das redes de sinal aberto. É caso perdido. Alguém tem de avisar os dinossauros: acabou a mamata.
>>> A programação de mal a pior
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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