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Segunda-feira, 1/4/2002
Orra, Meu

Julio Daio Borges




Digestivo nº 75 >>> São Paulo ganhou um dos mais elegantes e modernos teatros dos últimos tempos. Estamos falando do novo Teatro da Cultura Inglesa, localizado no recém-inaugurado (sem o devido alarde) Centro Brasileiro Britânico. Fica na discreta rua Ferreira de Araújo, em Pinheiros; a mesma que definitivamente não combina com a pujança e altivez do edifício, todo em mármore, contrastando com o movimento tímido da platéia, num dia chuvoso de domingo. A atmosfera pacata talvez reflita a escolha do diretor, Alexandre Tenório, em encenar o desafiador dramaturgo inglês Harold Pinter. O nome da peça, “O Monta-cargas” (tradução de “The Dumb Waiter”), já não inspira muito aqueles que anseiam por títulos mais coloridos. A sinopse também não faz concessões, quando descreve dois matadores de aluguel confinados, horas a fio, entre quatro paredes. E o crítico teatral, na saída, encerra qualquer veleidade com o seguinte veredicto: “Mas não é para entender! Não é para entender! Pinter é assim mesmo!”. Ainda que “seja assim mesmo”, e ainda que a audiência se sinta subtraída de toda a lógica e todo o raciocínio, Harold Pinter permanece como uma curiosidade intrigante nas salas paulistanas. É o absurdo; o absurdo em sua modalidade cênica. Quando Rubens de Falco e Kito Junqueira têm fome e sede, em vez de comida, recebem pedidos de comida. Quando Ben (Rubens) e Gus (Kito) aguardam um contato da chefia, em vez de um telefonema, recebem um envelope quase vazio. E quando se preparam para a próxima vítima, em vez dela, encontram uma encruzilhada entre a morte e a vida. Isto é Pinter; ou isto não é Pinter. Só mesmo assistindo para poder conferir.
>>> "O Monta-cargas" - Teatro Cultura Inglesa - Centro Brasileiro Britânico - Rua Ferreira de Araújo, 741 - Pinheiros - Tel.: 3039-0553
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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