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Quarta-feira, 3/4/2002
Bandido para quem precisa

Julio Daio Borges




Digestivo nº 75 >>> A violência. Quando um problema se torna crônico, ele deixa de ser um problema (ao qual corresponde uma possível solução) para se transformar numa questão de convivência. A violência urbana deixou de ser novidade nos grandes centros, estando presente nas manchetes dos jornais e telejornais, e nas conversas dos cidadãos, como se fosse fato corriqueiro; e é. Assim, quando se encara uma produção como “O Invasor”, de Beto Brant, a norma seria enquadrá-la como mais uma manifestação dessa realidade tão conhecida: a da violência metropolitana brasileira. Não é isso que acontece, porém. O filme desmantela algumas crenças e esperanças, tão caras a nós, que saímos da sala cientes de que 500 anos de usurpação e prevaricação não serão revertidos com prováveis medidas do governador ou do presidente. A discussão da violência cai de moda e depois volta (tão logo um novo barbarismo se inaugure na mídia), sendo a simplificação e o olvido as saídas mais cômodas para um mal permanente. O mérito de Brant, e de uma geração que trata o tema sem descomplicá-lo ou eufemizá-lo, está em enxergar a violência não apenas como o “ato de violência física”, restrito a indivíduos (ou grupos) socialmente desamparados ou moralmente deficientes – mas sim como uma arma de instâncias superiores, que não têm pudores em instaurar a chamada “guerra civil brasileira”. Logo, quando se ouve falar do maníaco, do matador ou do homicida, há que se considerar que – por trás daquelas mãos que executam – muitas vezes existe um cérebro que pensa por elas [alguém tão respeitável e civilizado quanto eu ou você]. A violência, em sua potencialidade, está mais próxima do que se ousa conceber. E “O Invasor” está aí, para quem quiser ver.
>>> O Invasor
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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