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Quinta-feira, 23/5/2002
O inútil de cada um

Julio Daio Borges




Digestivo nº 83 >>> Pouco ou quase nada se consegue transmitir da lírica de “Limite”, filme mítico de Mário Peixoto, eleito em 1988, por pesquisa da Cinemateca Brasileira, o mais importante já produzido no Brasil. Ainda assim, Sérgio Machado, um diretor baiano de 33 anos, encarou o desafio de levar às telas um pouco da estética e muito da lenda que cerca esse filme mudo de 1929. Montou um documentário que costura cenas do “Limite” original, mais restos do inacabado “Onde a Terra Acaba” (o segundo trabalho de Mário Peixoto), trechos do diário do cineasta lidos por Matheus Nachtergaele, depoimentos raros e – vale frisar – a paisagem deslumbrante do Rio de Janeiro, de Marambaia e do Sítio do Morcego. Resultado: uma das mais belas e envolventes declarações de amor ao cinema brasileiro. Mesmo os maiores detratores da cinematografia nacional vão se emocionar com a trajetória desse prodígio que foi Mário Peixoto, um Noel Rosa que não morreu e que dirigiu aos 21 anos uma das produções mais modernas de sua época e dos períodos subseqüentes, em matéria de Sétima Arte. Que ele não tenha conseguido realizar mais nada até o fim e que, ao mesmo tempo, tenha vivido 84 anos é um dos paradoxos que Sérgio Machado tenta explicar em seu documentário que, não por acaso, se chama também “Onde a Terra Acaba”. Aclamado e premiado por onde quer que passe, de Biarritz a Recife, tem estréia marcada para a última semana de maio. Diz a lenda que, em seguida, o próprio “Limite” voltará a ser exibido – o que, na carreira de uma obra-prima que quase se perdeu (por decomposição), é uma afronta à ordem astral. Não importa: que “Onde a Terra Acaba” corra o mundo e propague o gênio de Mário Peixoto já é uma resposta à altura das décadas de descrédito e descaso.
>>> Onde a Terra acaba
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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