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Terça-feira, 1/10/2002
Que digam, que pensem, que falem

Julio Daio Borges




Digestivo nº 101 >>> O musicólogo que, no futuro, decidir retroceder até a nossa época, não vai entender nada quando ouvir certos CDs. Qual o objetivo - ele se perguntará - de um disco que, por exemplo, passa por todos os ritmos mas não se fia a nenhum? Ou então de um álbum cujo artista não se decide entre o presente e o passado, alternando entre a confraternização com a "mocidade" e momentos de nostalgia pura? Pois é; para o bem ou para o mal, é isso que nos passa pela cabeça quando ouvimos Jair Rodrigues em "Intérprete", pela Trama. As contradições já se pronunciam logo de saída: Jair, que sempre foi sambista (apesar do "Fino" e da "Bossa"), em trejeitos típicos do popular-popularesco, recebeu um tratamento fotográfico de modo a embalá-lo como "cool". O resultado é, no mínimo, esdrúxulo. O "medley" inicial, a título de ilustração, ataca de Jorge Aragão e Wando; enquanto que a faixa imediatamente subseqüente entoa João Bosco e Aldir Blanc ("Incompatibilidade de Gênios"), sob o beneplácito de Lobão (um dos maiores camaleões - e talvez por isso mesmo - que esta terra já produziu). Mais adiante, na seção "revival", tem Sérgio Ricardo ("Zelão"), Edu e Vinicius ("Arrastão", tinindo de pieguice), Alberto Paz e Edson Menezes ("Ziguezague", com as próximas gerações: Jair de Oliveira, Wilson Simoninha e Rappin' Hood). A salada não pára: "Retrato da Vida" (moda sertaneja, devidamente abolerada, de Djavan e Dominguinhos); "Vinheta" (a primeira, registrando um depoimento sobre o começo de carreira, há 40 anos); "A Banca do Distinto" (de Billy Blanco, simulando um show na França e uma participação do Zimbo Trio, bastante convincente até). Enfim. Não que esse "Intérprete" não tenha bons momentos; acontece que, por não ter uma rota definida, desorienta o ouvinte, que não atina para nada em específico. O brilho de um José Domingos (em "Perfil de São Paulo") fica obscurecido por, digamos, um trecho de missa, inserido meio fora de contexto, como outra "vinheta" (a segunda). A família Trama bem que tenta salvar a barcaça do naufrágio, mas só consegue desarranjar ainda mais o conjunto. O politicamente correto e a ânsia de querer agradar a todos vão definitivamente enterrar as poucas reputações que ainda restam.
>>> Intérprete - Jair Rodrigues - Trama
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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