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Segunda-feira, 25/11/2002
Não sou neurótica, sou ligada

Julio Daio Borges




Digestivo nº 109 >>> Heloísa Périssé e Ingrid Guimarães estão fazendo "Cócegas" em São Paulo, já há algumas semanas. Pelo visto, para elas, nem o céu é mais o limite. Tom Brasil abarrotado. Duas sessões aos sábados e aos domingos (contando a versão infantil, "Cosquinhas"). Capa da Veja em São Paulo (sonho de consumo de dez entre dez paulistanos). Elogio de crítica (não só Nelson Motta, mas também Barbara Heliodora). Enfim. O que mais "Cócegas" poderia almejar? Semanal na Globo? Aposto que vem já já. Mas, afinal de contas: o que há de novo no front? Talvez não haja nada. De muito novo. As referências estão em toda a parte. Heloísa e Ingrid descendem do humor escrachado, vulgo "besteirol", da televisão e do teatro. Asdrúbal Trouxe o Trombone, TV Pirata, Cinco Vezes Comédia, Os Normais. De algum desses, todo mundo já ouviu falar. Evandro Mesquita, Regina Casé, Luís Fernando Guimarães. Fernanda Torres, Debora Bloch, Pedro Cardoso. São os "pais espirituais" das duas atrizes, veteranas. Estão em cada careta, em cada gesto exagerado. Em cada tipo representativo, em cada fala empostada. O espetáculo, no entanto, é feminista. No bom e no mau sentido. No bom, pois tira sarro da pseudo-independência feminina (que nos custou e nos custa tão caro). E no mau, porque pinta um retrato triste da mulher brasileira moderna. Desde a adolescente com cérebro de minhoca até a solteirona encalhada. Desde a modelete da última estação até a evangélica dos programas de auditório. A conclusão é que o mar não está para peixe. (Pra peixa, então... nem se fale.) Rimos e ficamos preocupados. Há também os palavrões, claro. Fartos. E as ofensas aos homens, coitados. (Não vejo, não ouço, não falo - autômatos totais e irremediáveis). Um prato cheio para antropólogos, sociólogos, psicólogos. E para quem quer rir fácil. Extremamente fácil. Mas elas merecem os frutos que estão colhendo agora. São efetivamente talentosas. Escrevem num português razoável. São grandes observadoras. Com a consagração, espera-se, no entanto, voltem ao drama. Mais cedo ou mais tarde, a seriedade cobra, do humor, maturidade.
>>> Cócegas - Tom Brasil - Rua Olimpíadas, 66 - Tel.: 3845-2326
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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