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Sexta-feira, 6/12/2002
Próximo e distante

Julio Daio Borges




Digestivo nº 111 >>> Saiu, pela José Olympio, "Arquitetura", um livrinho de 152 páginas, assinado por Lucio Costa. O autor do plano-piloto de Brasília, volta e meia eclipsado por Oscar Niemeyer, deixou apenas um livro em vida: "Lucio Costa - Registro de uma vivência" (1994). Suas mais conhecidas frases estão lá ou então em entrevistas: "O Brasil é um país precursor, dará o seu recado no tempo certo"; "[O Brasil] não tem vocação para a mediocridade." Faltava, realmente, uma exposição mais acessível de suas idéias. E "Arquitetura" foi pensado assim, em 1980, para um projeto do Ministério da Educação. A coleção completa, intitulada "Biblioteca Educação É Cultura", seria composta por 10 volumes. Sempre sobre temas gerais, como cinema, música, literatura, etc. Abordados por figuras-chave, como Gilberto Freyre, Wilson Cunha e Maria Clara Machado. Acabou não vingando, porém, e a obra preparada por Lúcio Costa só veio a lume agora. "Arquitetura" não está, no entanto, - como se imaginava antes de ler -, ao alcance do vulgo. Exige saber técnico, apesar do glossário final, espantando os não-iniciados na matéria. São várias as absides, as aduelas, as cornijas; e vários, também, os baldaquinos, os coruchéus, os mainéis. (Vide "Anotações ao correr da lembrança", um dos ensaios da seleção.) Por outro lado, para quem domina o vocabulário, não existe guia mais completo do nosso passado urbanístico. Lucio Costa parte de dois eixos da tradição ocidental: o nordico-oriental e o mesopotamio-mediterrâneo. Atravessa Portugal, o Brasil Colônia e o Brasil Império. Encerra sua exposição com a capital que José Bonifácio idealizava para o País, já em 1823. Existe algo da "República", de Platão, e da "Utopia", de Thomas Morus, na concepção de Brasília. Ainda que Lucio Costa a explique. Mas é interessante notar como se pensou em tudo. Ou em quase tudo. O ponto alto da seleta é, sem dúvida, "Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho", uma mini-biografia crítica do maior artista do barroco luso-brasileiro. E, claro, também, os inúmeros croquis (como adendos), espalhados pelo livro. O arquiteto se redime pelo traço; já que o escritor é o do "porquanto" e o do "conquanto".
>>> Arquitetura - Lucio Costa - 152 págs. - José Olympio
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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