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Quinta-feira, 30/1/2003
O homem do ano

Julio Daio Borges




Digestivo nº 119 >>> O que você faria se Deus lhe aparecesse em forma de gente, na hora e no local mais inesperados? Partindo dessa pergunta, João Ubaldo Ribeiro escreveu um conto e Cacá Diegues acaba de lançar um filme. O título, para os dois (por herança), é o mesmo: "Deus é brasileiro". Longe de ser uma unanimidade, o longa, que tem Antonio Fagundes e Paloma Duarte no elenco, é um dos mais eloqüentes retratos das belezas naturais brasileiras. Um mundo de águas e de desertos, de flora e de fauna, de fenômenos meteorológicos e de elementos humanos. Só pela fotografia já teria valido a pena. Apesar da dupla global (que se sai muito bem, diga-se de passagem), "Deus é brasileiro" revela também, em definitivo, o talento de Wagner Moura. O ator baiano, formado em teatro, já havia participado de "Abril despedaçado" (2002) e de "As três Marias" (2002), mas é graças à química com o todo-poderoso que ele se consagra em toda a sua habilidade. Embora os realizadores considerem a comparação despropositada, Wagner Moura encarna Taoca: uma variante do malandro nordestino típico, celebrizada recentemente, em tela grande, por Matheus Natchergaele, o eterno João Grilo. É esse Brasil, o da exuberância paisagística, o dos tipos riquíssimos, que compõe o panorama traçado por Carlos Diegues e sua fita. Anos-luz da "estética da fome", propagandeada pelo Cinema Novo (que ajudou a fundar), o diretor de "Xica da Silva" (1976) não se sente comprometido com antigos cânones - e parte para a celebração do Brasil das disparidades, dos paradoxos, das incongruências. Conta que, há muito tempo, não se divertia tanto filmando. A técnica está presente no domínio completo da narrativa, ainda que os planos sejam variados e os cortes sucessivos. "Deus é brasileiro" é, assumidamente, um road movie. O espectador, se embarca na viagem, se sente completamente dominado pelos efeitos combinados (alguns de pós-produção), emergindo para a realidade só no final da sessão. Além do virtuosismo imagético, há também as escolhas acertadas para a trilha sonora, que passa por Djavan e Villa-Lobos, conferindo destaque ao Cordel do Fogo Encantado (que, aliás, faz uma ponta). O Carlos Diegues que, nos anos 90, se dividia entre a retomada cinematográfica e a influência da televisão parece ter se realizado plenamente em "Deus é brasileiro". Um sentimento que tende a se confirmar na recepção calorosa por parte do público (ainda que a crítica refugue um pouco).
>>> Deus é brasileiro | Cacá Diegues e os jornalistas
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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