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Segunda-feira, 10/3/2003
Rock'n'road movie?

Julio Daio Borges




Digestivo nº 124 >>> Alguns astros pop podem ser analisados à luz de suas mulheres. Todo mundo se lembra do exemplo mais patente: John Lennon e Yoko Ono. Há também um exemplo brasileiro, mais recente e sujeito a controvérsias: Caetano Veloso e Paula Lavigne. De qualquer modo, ninguém imaginava que Paul McCartney fosse tão suscetível aos desígnios de suas companheiras. Não, até a chegada de Heather Mills, que assumiu a dinastia depois da morte de Linda. Os efeitos se fazem sentir no DVD "Back in the U.S.", lançado no ano passado e pouco comentado no Brasil. Nele, Macca exercita o seu lado showman e rende-se à cultura americana como nunca antes: faz média com o apresentador Jay Leno; filma despudoradamente as estrelas de Hollywood que prestigiam seu show (Tom Cruise, John Cusack, Michael Douglas); e, para completar, rende-se ao culto do "middle man" - seja mostrando anônimos na fila, incentivando a luta por autógrafos ou até retratando as pessoas que "fazem tudo acontecer". O que seria uma coleção de performances do ex-Beatle, em turnê pelos Estados Unidos, se converte num "especial" cheio de "inserções dos bastidores" e cenas que, francamente, beiram o demagógico. Em realidade, ficamos sem entender se Paul quis "fazer uma média" com o Tio Sam ou se anda com a auto-estima tão baixa que quis registrar o quanto é amado e idolatrado. Qualquer das duas hipóteses beira o improvável: a primeira, simplesmente porque ele não "precisa"; a segunda, porque é óbvia demais. Repetindo: ficamos sem entender. Musicalmente, a banda da época de Linda foi desmembrada: nada daqueles senhores de meia-idade ou do clima de "coleguismo" dos Wings. Parece que depois da turnê de "Run Devil Run" (1999, também em DVD, no Cavern Club), Paul McCartney tomou gosto pelas formações enxutas e decidiu convocar as novas gerações. Com exceção do tecladista (o único remanescente da antiga formação), décadas o separam dos dois guitarristas e do baterista (este com maior grau de liberdade, sério candidato a revelação). No que diz respeito ao set list, as melhores surpresas ficam por conta de "Getting Better" e "Something". Estão corretas as versões para "Maybe I'm Amazed" e "Band On The Run". O resto se mantém na média mas é quase dispensável (principalmente a pieguice de algumas homenagens, ao 11 de setembro, by the way). Lógico que Macca é sempre Macca. Ao mesmo tempo, não podemos deixar para trás a crítica e o sarcasmo de John Lennon. Ele não teria perdoado o Mother's Eyes.
>>> Back in the U.S.
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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