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Segunda-feira, 14/4/2003
Dreamer awake, wake up and see

Julio Daio Borges




Digestivo nº 129 >>> São Paulo, ao contrário de algumas das maiores metrópoles do mundo, não tem casas de jazz, estritamente falando. Tem lugares como o Bourbon Street, que completou 10 anos inspirado em New Orleans, mas que, para sobreviver, mistura em seu cardápio funk, pop e MPB. Infelizmente, no Brasil, é assim que tem que ser. O mesmo ocorreria aqui com uma “jazz station” (uma rádio jazz) que, para se sustentar, teria de injetar outros gêneros na sua programação. É normal no atual capitalismo de massas, apesar da dita “segmentação” (“segmentar” para aqueles dois milhões que, no País, efetivamente consomem). Enfim, o Bourbon remonta às suas origens quando recebe (e apresenta) jazz de verdade. E isso ocorre algumas vezes durante o ano, graças ao festival Diners. Em 2003, na abertura que aconteceu na semana passada, foi a vez de Ron Carter e seu quarteto, acompanhados, em metade do “set”, pela voz de Leny Andrade. Músicos de uma execução precisa, emendando uma peça na outra, pareceram “frios” à platéia local (com exceção, talvez, do percussionista, que tentou fazer graça com uma cuíca [novidade]). Mesmo quando tocaram “Blue In Green”, mesmo quando arrancaram alguns aplausos na versão instrumental de “Insensatez”. Mesmo com uma impecável “I Thought About You”. Mesmo com um pianista como Stephen Scott (olho nele; é o tipo de sujeito que não precisa de braços de centopéia para chamar a atenção sobre si). Só quando começou a “parte 2”, com a entrada de Leny, é que “a coisa se incendiou um pouco” (palavras de um espectador que, mesmo pouco entusiasmado ao final, se preparava para rever todo o “set”, na segunda sessão). Leny abriu com (lógico) “Corcovado”. Aqueceu-se em meia dúzia de “vocalises” (“ií, oó, eé; uú, aá, eê”). Em seguida, mandou “Dindi”, cuja autoria fez questão de atribuir a Aloysio de Oliveira (como se alguém ainda [não] soubesse). Mas foi pôr fogo na platéia de “Triste” em diante (embora o relógio apontasse para o fim do cronometrado show). Ainda que seu vozeirão dialogasse com os instrumentos, de igual para igual, havia um curioso efeito plástico no ar (dada a sua estatura e as dos demais músicos). Improvisando, lembrou Ella Fitzgerald, e, na rouquidão, Sarah Vaughan. Nada mal para São Paulo. Nada mal para o Bourbon Street. Nada mal para uma quinta-feira à noite. A civilização, às vezes, pisa nos palcos paulistanos.
>>> Bourbon Street
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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