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Quinta-feira, 7/8/2003
Contra Mundum

Julio Daio Borges




Digestivo nº 141 >>> Edward Said, um dos mais renomados intelectuais dos Estados Unidos em matéria de “orientalismo” (embora implique com o termo), quem diria, ganhou notoriedade até no Brasil. Com a intenção declarada de Bush de apaziguar os conflitos entre palestinos e israelenses, seria natural que uma autoridade no assunto, no caso, Said, fosse chamada a opinar. E aconteceu na “Veja” de algumas semanas atrás. Nas páginas amarelas, como era de se esperar (para quem acompanha os escritos de Said), ele disse não acreditar nas negociações, prevendo que vão irreversivelmente fracassar. Foi uma entrevista breve, com o seu quê de bombástica, não permitindo que se conhecesse o pensamento de Edward Said em maior profundidade. Para os que se interessam, a Companhia das Letras lançou, neste ano, “Reflexões sobre o exílio”, uma coleção de ensaios com edição do escritor Milton Hatoum. O livro não é tão bem escrito quanto o de um George Steiner (a quem o autor cita e, de alguma maneira, se compara), mas chama a atenção, em alguns pontos, por trazer a visão do “outro lado”. Ou seja: como vivemos maciçamente cercados pelo ponto de vista de Israel, e dos judeus do mundo inteiro, há algo de enriquecedor em nos vermos contrariados. Além de palestino de nascimento, Said tem como bandeira uma reavaliação do papel do Oriente na cultura ocidental. Com inclinações à esquerda, resvala no patrulhamento, considerando o “Cânone Ocidental” uma imposição dos “poderosos”, e até chega a incentivar a “ação afirmativa” das chamadas “minorias” nos Estados Unidos. Por esses e por outros motivos (há que se levantar, claro, as datas em que disse isso ou aquilo), mostra-se equivocado, e alguns de seus textos parecem bastante difíceis de atravessar. É preciso separar o joio do trigo, aproveitando suas vivências (a melhor parte do livro) e deixando de lado a pedreira do ultrapassado marxismo, da cansativa semiótica e da politiqueira filosofia. Como Steiner, porém, Said é um poliglota, culto, lido – não muito fácil de confrontar. Ainda assim, não há mal em duvidar de suas certezas (algumas histéricas demais) e nem em considerar o seu discurso tedioso (quando se estende por dezenas de páginas).
>>> Reflexões sobre o exílio - Edward Said - 352 págs. - Companhia das Letras
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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