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Terça-feira, 7/10/2003
Lágrimas de poeta

Julio Daio Borges




Digestivo nº 145 >>> Alguma coisa impede a Kuarup de se afirmar, sabida e notoriamente, como uma das maiores gravadoras de música brasileira. O que será? Serão as capas? Será o marketing (ou a ausência dele)? Será o excesso de modéstia e humildade, a exemplo de seu fundador, para efetivamente assumir um lugar de destaque? Não se sabe. E essa contradição (de não ser efetivamente o que se é) revela-se ofuscante em lançamentos como o de Henrique Annes: “Violão Pernambucano”. Mesmo desconhecendo de quem se trata, dois integrantes do “regional” que acompanham o músico merecem destaque: Maurício Carrilho (também ao violão) e Luciana Rabello (ao cavaquinho). O primeiro deu forma ao CD de estréia de Yamandú Costa (o prodígio que virou “figurinha fácil” na mídia), e a segunda é irmã daquele violonista lendário, morto precocemente, que felizmente ninguém esqueceu (Raphael Rabello). Só por isso, mais essa iniciativa da Kuarup merecia os holofotes dos jornais e das revistas. Mas, se você perguntar, ninguém viu ou ouviu falar. Passando por cima da omissão dos nossos “divulgadores” de sempre, é preciso ainda dizer que Henrique Annes, para quem não sabe, segue aquela tradição pernambucana que remonta, obviamente, a João Pernambuco (o compositor de choros) e a Jaime Florence, o Meira, professor de nada mais nada menos que Baden Powell. O presente CD sinaliza com composições de Annes, tremendo intérprete, que conquista já nas “caribeanas” (números 1, 2, 3 e 4, que abrem o disco), atravessando o universo do chorinho (“Choro para Maurício Carrilho”, “Choro para Edson”) e impressionando definitivamente, os incautos, com os “prelúdios” (números: 1, 2 e 3), que não deixam nada a dever aos de Villa-Lobos. Fora que, em meio aos descaminhos que conduziu a música brasileira ao seu paupérrimo viés “eletrônico”, é um alívio topar com um álbum 100% melódico, que “envolve” e permite novos mergulhos, sem se esgotar nas primeiras (ou mesmo na primeira das) audições. E, para quem gosta de nomes, há ainda os de Altamiro Carrilho (o flautista, numa faixa) e Paulo Sérgio Santos (o clarinetista, em outra). Com um “cast” desses, a Kuarup merecia as primeiras páginas das publicações musicais (se elas existissem), ou então os louvores da crítica especializada (se ela não estivesse abafada ou agonizante). Enquanto não chega esse dia, promove banquetes a poucos privilegiados.
>>> Violão Pernambucano - Henrique Annes - Kuarup
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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