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Quinta-feira, 9/10/2003
Uma relação orgânica com a rede

Julio Daio Borges




Digestivo nº 145 >>> Pollyana Ferrari, praticamente mãe do site "Época On-line" (enquanto ele existiu) e ex-diretora de conteúdo do iG (quando este tinha outras ambições), escreveu "Jornalismo Digital", pela coleção da editora Contexto. O livro, apesar de breve (menos de 100 páginas de texto), é um prato cheio para quem quer saber o que foi o "boom" jornalístico da Web brasileira no final dos anos 90. Pollyana, que também é professora da Eca (USP), basicamente fala de sua experiência no veículo internet — o que equivale à visão de um jornalista de "grande imprensa" do fenômeno. É o que dá a dimensão e, ao mesmo tempo, limita a obra. A autora obviamente raciocina nos moldes das redações "de papel" (como chama), embora, felizmente, compreenda o que é trabalhar nos padrões da Grande Rede (principalmente pré-"Bolha"). Acontece que não trata, em nenhum momento, do jornalismo (ou do pseudojornalismo, se preferirem) exclusivamente oriundo da internet brasileira, mas desamparado das grandes corporações de mídia. Aquele que não foi "mainstream" e que foi "independente" (um termo gasto, mas...), fazendo igualmente "História" na Web tupiniquim. Aquele de sites, de revistas eletrônicas, e hoje, quem sabe, de blogs — longe das ramificações de grupos como Folha, Abril, Globo, Estado, etc. (Muitos, claro, já extintos [porque a fase do heroísmo já passou]). Desse "jornalismo digital" (por abuso de linguagem, talvez?), Pollyana Ferrari não fala. Mas não convém crucificá-la. Afinal, Ferrari faz a defesa apaixonada do "jornalista digital" (ou do que entende por isso), louvando as investidas da academia na formação desse profissional e, em paralelo, condenando os barões da notícia no Brasil, que, depois do tombo virtual de 2000, reduziram as oportunidades a quase zero. Sim, a conclusão é triste: o "jornalismo digital", se um dia houve, no ponto de vista de Pollyana Ferrari, já acabou. E, mesmo raciocinando por outras categorias, talvez ela tenha razão. O romantismo de quem ia mudar o mundo, via WWW, não se encontra mais em qualquer esquina — e, independentemente de quem "ganhou" ou de quem "perdeu", isso não é bom. O livro, portanto, permanece como um testemunho do que "foi" (e, provavelmente, do que "poderia ter sido"). Nisso, ele se justifica. Quiçá estimule o "contar" de outras "histórias". Certamente com menos glórias, mas, na mesma medida, importantes.
>>> Jornalismo Digital - Pollyana Ferrari - 120 págs. - Contexto
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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