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Quinta-feira, 11/9/2003
Rastros de compreensão

Julio Daio Borges




Digestivo nº 143 >>> E a Trama, pouco a pouco, vai cumprindo a sua ambição de se tornar uma das maiores gravadoras de música brasileira de todos os tempos. A aposta numa “nova geração” da MPB, depois de três investidas em estúdio, finalmente vem rendendo frutos. E o resultado mais significativo é um CD que acaba de sair do forno: “Cesar Camargo Mariano e Pedro Mariano – piano & voz”. Esse trabalho é particularmente emblemático na trajetória da Trama por vários motivos. Primeiro, porque se revelou a tentativa mais bem sucedida até agora de “diálogo” entre pais e filhos. (Jair Rodrigues e Jair de Oliveira, por exemplo, já haviam tentado, em algumas faixas, sem sucesso.) Segundo, porque ilustra a migração da gravadora de uma sonoridade “suingada”, setentista, retrô, para uma contribuição efetiva na tal “linha evolutiva” da Música Popular Brasileira. O disco, na verdade, coroa o amadurecimento de Pedro Mariano como intérprete. Neste “Piano & voz”, pela própria natureza do projeto, Pedro abre mão dos maneirismos, de um exibicionismo quase virtuosístico – e soa inacreditavelmente econômico, para quem estava acostumado a vê-lo elevar o tom (ao competir com a banda) e estender as notas num desempenho quase muscular, em “Voz no ouvido” (2000) e “Intuição” (2002). Ao mesmo tempo, encontramos um Cesar Camargo Mariano no auge do domínio da técnica. Muito além das firulas do tecladista dos festivais da televisão, e do arranjador que, para alguns, não celebrizou exatamente a melhor fase de Elis Regina. São excepcionais as soluções encontradas para: “Deixar você” (uma balada de acento jazzístico); “Caso sério” (um tremendo bolero); “Tarzan, o filho do alfaiate” (quase um foxtrote); e “Se eu quiser falar com Deus” (um autêntico blues). Só alguém com conhecimento pleno desses gêneros poderia produzir tais efeitos. No aspecto composição, merecem inegável destaque as contribuições do mesmo Jair de Oliveira: “Papo de psicólogo” (um samba) e “Par Impar” (uma parceria entre o próprio e Cesar Camargo Mariano). E Pedro, por sua vez, dá o melhor de si nos momentos de introspecção: “Acaso” (na abertura) e “Dupla traição” (mais para o final). Ou seja: “Piano e voz” é “o” álbum; aquele em que praticamente nada se descarta; e que tem todo o potencial para deixar sua marca.
>>> Piano & Voz - Cesar Camargo Mariano e Pedro Mariano
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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