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Sexta-feira, 21/11/2003
Auf! Auf!

Julio Daio Borges




Digestivo nº 150 >>> Do espólio kafkiano, ainda faltava um romance para Modesto Carone completar seu trabalho de tradução. Trata-se de “Amerika” ou “O Desaparecido” (1912-14) que sai, agora, pela Editora 34, vertido para o português por Susana Kampff Lages, professora de alemão da Unicamp. Perto da realização exímia de Carone, hoje no catálogo da Companhia das Letras, chega a ser covardia julgar o resultado dessa versão de “Amerika” para o nosso idioma. Digamos que permanece aquele aspecto de “massa bruta” (talvez oriundo de Kafka), sem a elegância de quem conseguiu converter “O Castelo” (de mais de 400 páginas) em leitura saborosa na língua de Machado. Chegamos, inclusive, a duvidar das boas intenções de Max Brod (o testamenteiro histórico), pois “Amerika 2003” soa desconjuntado, com trechos realmente difíceis de se atravessar. Para o leigo, há curiosidades. Aos 29 anos de idade, Kafka lançou-se em direção ao seu primeiro romance, inspirado no Novo Mundo. Muniu-se de relatos de viajantes, de reportagens e de guias turísticos. Não teve dúvida: colocou uma espada na mão da Estátua da Liberdade; ligou Nova York a Boston por uma ponte (a do Brooklin); e encerrou tudo com um trem partindo animado para “Oklahama” (em vez de “Oklahoma”). E.L. Doctorow, que assina o prefácio da edição americana, jamais perdoou o nosso Franz. Na Alemanha, conta-nos a atual tradutora, são reproduzidas versões fac-similares dos escritos de Kafka. Como muitos são fragmentários, todos os que neles mexeram (a começar por Brod) desvirtuaram um pouco a obra. É o caso de se perguntar se o autor da “Metamorfose” não virou refém de antropólogos, profanadores de templos e escavadores de tumbas. Até que ponto vale escarafunchar seu baú e colocar textos inacabados em pé de igualmente com clássicos que o próprio Kafka quis preservar? A lenda em torno de seus cadernos (e da ordem expressa de que fossem queimados) é muito sedutora, mas não seria a hora de avaliar o seu “opus” sem esses detalhes estritamente biográficos?
>>> O Desaparecido ou Amerika - Franz Kafka - 304 págs. - 34
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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