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Segunda-feira, 22/12/2003
A Mina de Sampa

Julio Daio Borges




Digestivo nº 154 >>> Rita Lee virou ídolo de televisão. A cabo. Está perdida. A cada disco, agora, tem de agradar também suas colegas de “Saia Justa” (Fernanda Young, Marisa Orth, Monica Waldvogel) e os telespectadores do GNT. O “Saia Justa”, aliás, às vezes parece um “blog” – em que cada participante destila suas misérias. Deveria haver alguma lei contra a superexposição; contemplando desde os “blogueiros” anônimos até as personalidades televisivas. Mas, voltando ao disco, parece que Rita Lee finalmente se rendeu ao seu lado “besteirol”, “circense”, “clown”. O encarte colorido e as intervenções do DJ Memê confirmam isso. Nada da introspecção confessional de “Mutante” (1981); nada da densidade amorosa de “Shangrilá” (1980); nada do bossa-novismo de “Desculpe o Auê” (1983); e nada dos “rocks” de “Fruto Proibido” (1975). A instrumentação, inclusive, em “Balacobaco” (esse é o nome do disco) está tão leve que vai acabar virando trilha sonora de dentista. Mesmo quando tenta soar ofensiva (em, por exemplo, “Tudo Vira Bosta” [sic]), Rita Lee só consegue soar... inofensiva. A Titia Rita – que rasgava certidão de casamento no programa da Hebe; que cuspia na cabeça de quem integrava as passeatas da TFP – hoje não assombra mais. Está pronta para ser avó. (Será que é isso?) Está pensando na sua “reputação”; na “posteridade” e em seus “netinhos”. Entre alguns jogos habilidosos de palavras (como “Amor e Sexo”), o melhor momento é, sem dúvida, “A Gripe do Amor”. Rita Lee, como Lulu Santos (que prometeu o CD “Lee à la Lulu” – e não cumpriu), deveria se deixar “memerizar” pelo DJ. Alcançou a leveza das pistas e poderia dispensar as guitarras de Roberto de Carvalho. “Balacobaco” fica então como um registro da transição entre os Beatles (e os Rolling Stones) e a sua incursão na música eletrônica. (A propósito: como ninguém pensou nisso antes – se até o “Olhar 43” do RPM sucumbiu aos “embalos de sábado à noite”?) “Over the Rainbow” está, portanto, deslocada; e a filosofice de “Eu e Mim”, mais ainda. Rita Lee poderia igualmente abandonar o “Hino dos Malucos”, que, de tão banal, poderia se chamar “Hino dos Normais” (em homenagem aos novos parceiros: Alexandre Machado e sua esposa).
>>> Balacobaco - Rita Lee - Som Livre
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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