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Sexta-feira, 2/4/2004
Los poemas cotidianos

Julio Daio Borges




Digestivo nº 169 >>> O Brasil é um continente isolado na América Latina. Não apenas geografica mas culturalmente também; desde as origens. Uma das maiores “barreiras” é, obviamente, a língua – embora muito brasileiro se arrisque num “portunhol” lascado quando cruza a fronteira. Os idealizadores da Amauta Editorial enxergaram justamente aí uma oportunidade: – Por que não lançar toda uma gama de autores espanhóis e hispano-americanos no País de Machado de Assis e Guimarães Rosa? Eis que chega, às nossas mãos, o primeiro volume da Amauta: “Crimes Exemplares” (1957), de Max Aub. O título evoca as “Novelas Exemplares” de Cervantes (e até as “Nada Exemplares” de Dalton Trevisan), mas Vicente Ferrer, no prefácio, fala em Goya e no humor negro mexicano. O certo é que Aub, filho de francesa com alemão, nasceu na Espanha mas fixou suas raízes no México, em meados do século XX. Seus “Crimes”, como sugeriu o tradutor Vanderley Mendonça, são pequenos ajustes de contas – literários – com o mundo que o cercava e que lhe causava desgosto. Então ele arremata: “Matei-o porque não pensava como eu”. Ou revela uma frustração íntima: “Matei-a porque não era minha”. Ou ainda: “Matei-a porque ‘era’ minha” (grifo nosso). Emenda jogos de palavras: “Matei-o porque era mais forte do que eu” e “Matei-o porque era mais forte do que ele”. Os “Crimes” são, na verdade, uma coleção de “mortes matadas”. Desde a dona-de-casa que não agüenta a empregada tagalerando (e sufoca-a com uma toalha) até o marido que, depois de um casamento morno de 12 anos, empurra a esposa por uma avenida movimentada. Há mortes que calam fundo e há mortes tão banais quanto o dia-a-dia (do sujeito que dá fim a um vendedor de loteria; e do vendedor de loteria que dá fim a um cliente muito decidido). O livro se completa com epitáfios (do intrometido: “metia-se em tudo; aqui está metido”) e com “crimes gastronômicos” (nádegas, por exemplo, são piores de morder do que de apalpar – segundo o autor). São menos de 100 páginas para uma “sentada” de mortes engenhosas e criativas. O fato consumado é que, graças à Amauta, Max Aub já está entre nós.
>>> Crimes Exemplares - Max Aub - 96 págs. - Amauta Editorial
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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