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Quarta-feira, 22/9/2004
Suscipe, Domine

Julio Daio Borges




Digestivo nº 193 >>> Nélson Rodrigues passou por um “revival” a partir dos anos 90, com o lançamento da biografia de Ruy Castro a seu respeito, e com a (re)edição em livro de sua obra jornalística, também pela Companhia das Letras. E se Nélson acabou recuperando o “status”, que antes já tinha, como jornalista (sempre esteve entre os maiores do Brasil), ficou em segundo plano como dramaturgo, embora nunca tenha sido deixado de lado pelos encenadores e pelas montagens. Com o lançamento de suas peças, em volumes individuais (quase edições “pocket”), agora pela Nova Fronteira, surge a oportunidade de se reler os textos de Nélson Rodrigues que fundaram o modernismo no teatro brasileiro. Desde “Vestido de Noiva”, que foi um retumbante sucesso logo na estréia, em 1943, até “Álbum de Família”, proibida por mais de 20 anos e que chocou até as mentes mais avançadas, passando por “Senhora dos afogados” e por “Viúva, porém honesta”. Se, tomando por base apenas o recorte jornalístico, já se podia concluir, como fez recentemente Carlos Heitor Cony, que Nélson foi o maior escritor brasileiro desde Machado de Assis, a sua dramaturgia, atualmente ao alcance de todos, vem para consolidar seu gênio incontestável. Afinal, para começo de conversa, ninguém – em português luso-brasileiro – escreveu diálogos como Nélson Rodrigues. Vivos, expressivos, certeiros. Depois, quantos poderiam se gabar de haver construído personagens como os de seus dramas? Densos, bem-resolvidos, universais. Para terminar, e para a inveja eterna de seus pares, Nélson foi lido como poucos no século XX e teve, apesar da censura, uma acolhida incomparável entre gente de teatro. Ainda que “seja burro” fosse um de seus conselhos principais, numa época em que todo mundo queria ser intelectual, suas realizações são sofisticadas e, ainda que negasse também seu “background” cultural, suas peças confirmam Freud e têm muitos pontos de contato com as grandes realizações de Shakespeare. Enfim, sobram motivos para ler e reler Nélson Falcão Rodrigues. E, se há 10 anos a Nova Aguilar coligia em volume único o teatro completo do Anjo Pornográfico, nada melhor do que essa iniciativa da Nova Fronteira, em 2004, para fazer circular – mais uma vez – cada texto em sua forma original.
>>> Vestido de Noiva - Nélson Rodrigues - 96 págs. - Nova Fronteira
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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