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Segunda-feira, 21/2/2005
Conduzinho Miss Maggie

Julio Daio Borges




Digestivo nº 215 >>> Existem uns tantos filmes sobre boxe. Clint Eastwood, felizmente, parecia saber disso e, embora as fotos de divulgação indiquem mais um longa sobre lutas e treinamentos, Million Dollar Baby ou Menina de Ouro consegue ser mais e melhor do que uma versão feminina de Rocky, o lutador. Claro que o também grande diretor (talvez até mais que ator) não prescinde, dentro do gênero, de alguns clichês básicos. Apesar da sugestão do homem-chavão, dizendo que as fitas de Clint e de Tom Cruise são todas iguais, nas linhas mestras, o caçador de obviedades livresco parece ter alguma razão. Mais uma vez, o durão que havia quase desistido da vida e perdido a esperança encontra um pupilo, no caso, uma pupila, que, depois de uma certa resistência para conquistá-lo, devolve-lhe o sal da vida e o brilho nos olhos. Do lado da discípula, alguns clichês também. De origem humilde, vinda da província, arrastando uma família com mil problemas, graças ao afinco e à dedicação — e ao talento, lógico — vai galgando degrau a degrau, tanto na confiança do mestre quanto na própria consagração (aqui, como lutadora de boxe). Além da novidade do gênero (mulher-lutadora e não homem-lutador), Clint Eastwood, para seguir na análise técnica e dramática, quebra seu personagem em dois: além de si próprio, convoca Morgan Freeman, para ser uma espécie de "ego-auxiliar" e/ou narrador em off. Clint ou Frankie, na história, ainda lê Yeats e arrisca alguns rudimentos em gaélico. Mas a grande virada, naturalmente, não está nesses pequenos detalhes dentro da trajetória de uma batalhadora — novamente, Hillary Swank, Maggie, la boxeuse. O ineditismo reside no acidente que a mocinha sofre, morrendo na praia, à beira do título mundial, e na reviravolta que isso provoca. Nem é necessário acrescentar que se está falando de paralisia e, mais a fundo, de eutanásia (tema agora na moda). A lição que fica é que, por não ser Clint Eastwood um diretorzinho de meia tigela, podemos desfrutar de emoção na dose certa — sem sentimentalismos e sem forçação de barra. Uma aula que, infelizmente, nem todos os cineastas conseguem assimilar.
>>> Million Dollar Baby | Clint Eastwood (entrevista)
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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