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Sexta-feira, 22/4/2005
Jornalismo mentira, humorismo verdade

Julio Daio Borges




Digestivo nº 224 >>> Olhando hoje para o Casseta&Planeta, a impressão que se tem é a de que eles sempre foram tão establishment quanto, sei lá, por exemplo, o Faustão. Acontece que houve uma época em que eles não foram; como também, aliás, não foi o Faustão. Eram os anos 80, o País estava se democratizando, havia uma ressaca da Ditadura, e do humor engajado, quando, direto do seio do esclerosado Pasquim, vieram à tona os idealizadores do jornal O Planeta Diário. Em outra ponta, também no Rio, surgia um grupo em torno da revista Casseta Popular. As afinidades eram tantas que eles acabaram se juntando, indo para a televisão, e o resto é história – desde a década passada, na Globo. Claro que não foi tão simples assim e claro que a consagração não foi imediata. Para quem quiser entender e sacar que, antes do casamento perfeito com o audiovisual, havia uma habilidade para o texto e para a editoração (para as colagens, principalmente), a Superinteressante, dentro do selo “Mundo Estranho”, preparou três volumes de A história completa do Casseta&Planeta, já nas bancas. Trata-se de uma realização bem acabada, com diagramação arejada, que dá uma boa idéia do que foi aquele humorismo do tempo da Abertura – sem soar cansativamente datado. Óbvio que quem não é adolescente e não é fã, quer, de repente, saber qual foi a fórmula do sucesso – e embora as revistinhas não forneçam respostas oraculares para essa pergunta, a sugestão está lá... As raízes de um trabalho que, por mais desgastado que esteja agora, foi influente e produz frutos até hoje. Vide, na internet, o site Cocadaboa. Mr. Mason e sua trupe são puro Casseta&Planeta dos primórdios. E se cabe uma comparação entre mídias contemporâneas, vale revisitar um momento em que uma publicação alternativa poderia, da noite para o dia, vender 100 mil exemplares em banca, gerar processo da DC Comics americana e ganhar coluna em jornal sério (vá lá, mais sério antes), a Folha. Num mundo cada vez mais globalizado, em que a discussão política ganha novamente relevância (nem que seja via ideologias de antes-de-ontem), fica fácil prever que as piadas alienadas do Casseta&Planeta estão com os dias contados (para os adultos, não para as crianças). Mas se a História gira sua roda não mais a seu favor, eles podem ainda se gabar de, alienados ou não, terem feito, também, seu recorte histórico – através do humor.
>>> A história completa do Casseta&Planeta | Por que votar em Bussunda?
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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