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Quarta-feira, 20/9/2006
Patrícia Palumbo e o rádio
Verônica Mambrini

Jornalista que faz rádio costuma ser louco por rádio. Os primeiros anos da profissão normalmente são de salários mais baixos e horas de trabalho mais puxadas, o que espanta quem não tiver um encanto natural por esse meio. A jornalista Patrícia Palumbo, da Eldorado, gosta tanto de rádio que coleciona aparelhos. Coleciona também belas entrevistas em sua trajetória, com vozes inconfundíveis da música brasileira. Patrícia mostrou algumas delas no último dia 15, no curso de jornalismo cultural promovido pelo Centro de Estudos da Revista Cult.

Patrícia começou a carreira na rádio Cultura AM há 18 anos, e lá aprendeu a fazer "jornalismo com responsabilidade". Por ser transmitida em AM, FM e ondas curtas, a Cultura tem um alcance enorme, até mesmo fora do País. Ela diz que hoje só trabalha com o que gosta, e que ganha bem para isso. "Minha independência foi um pouco de sorte e muito de postura. Desde o começo procurei lugares onde pudesse buscar essa especialização". Na discoteca da Fundação Padre Anchieta, por exemplo, ela extraiu o que pôde do acervo de 40 mil LPs da rádio.

Aprendeu logo que "você tem de trabalhar a linguagem, seduzir seu ouvinte". Depois de conquistá-lo, o jornalista ganha confiança suficiente para entrar no não habitual, em assuntos mais variados e sair da pobreza da agenda cultural que domina as rádios hoje. Embora haja exemplos esparsos de bons programas no ar, as rádios estão cada vez mais massificadas, se agregando a redes que padronizam o conteúdo. É um público muito grande para o alcance ínfimo existente de programas culturais atraentes e com conteúdo. Uma emissora como a rádio Transamérica, por exemplo, chega a atingir 160 mil pessoas por minuto. Patrícia informa também que, segundo o Ibope, cerca de 99% dos domicílios brasileiros possuem aparelho de rádio - um contingente enorme de ouvintes em potencial para bons programas de cultura.

Ela cita os exemplos do Planeta Som, na rádio USP FM, com Magda Pucci (do grupo musical Mawaca), que explora só o terreno na música, ou o Show da Manhã , na Jovem Pan, que tem o jeitão da rádio: rápido, popular, lúdico. Mais sóbrio, o Estação Cultura , na Cultura FM, com Gioconda Bordon (que antes fazia Espaço Informal na Eldorado), achou um ritmo próprio, mais lento; Patrícia acredita que é contraponto interessante à loucura do trânsito urbano, no horário do programa (das 18h às 19h, de segunda à sexta-feira).

Na rádio em moldes mais tradicionais, Patrícia levou ao ar o Vozes do Brasil, por um ano, às terças-feiras à noite, na rádio Eldorado. O programa tinha entrevistas com grandes vozes da MPB. Rendeu filhotes, como o Vozes ao Vivo, parceria com o Sesc Vila Mariana, e o Vozes na Biscoito, com a gravadora Biscoito Fino. O último veio a partir de entrevistas de Patrícia em que ela perguntou a artistas como Chico Buarque ("Eu aprendi a cantar ouvindo rádio") e Maria Bethânia ("Eu me criei ouvindo rádio 24 horas") qual era a relação deles com o rádio.

Patrícia Palumbo ouve e produz rádio para internet. Além de ter suas preferidas, envia boletins de música brasileira contemporânea para a rádio Grenouille, em Marselha, na França. Contudo, não se entusiasma muito com podcasts. "O podcast ainda não é uma alternativa de trabalho, é só diversão", afirma. Se o podcast vai se tornar um fenômeno sério no Brasil, como os blogs de jornalistas têm se tornado, só dá para saber com o tempo.

Uma curiosidade: ela não escreve os roteiros antes de ir para o ar. Abre o programa apenas com a primeira música na cabeça, e deixa que uma "puxe" a outra. "Você tem de estar preparado todo o tempo, saber que vai entrar ao vivo. Esse negócio de precisar ter alguma coisa escrita, senão você não dá conta, é uma armadilha. Você tem que ter firmeza, saber do que está falando."

Verônica Mambrini
20/9/2006 às 12h35

 

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