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Quinta-feira, 5/10/2006
A quase morta cultura na TV
Verônica Mambrini

Mudam os governos, a direção de jornalismo da TV Cultura e a relação da emissora com políticas de patrocínio, mas o Metrópolis, bem ou mal, continua ali. E, talvez pela força do tempo há que está no ar - desde 1988 -, praticamente impôs um modelo de como abordar cultura na televisão, a ponto de claramente ter inspirado o Fantástico, da Globo, a usar obras de artistas plásticos no cenário do programa. Hoje, um dos nomes por trás do Metrópolis é Helio Goldsztejn (apesar do programa invariavelmente ter a cara do Cunha Jr. para o telespectador), convidado pelo Centro de Estudos da Revista Cult a falar de jornalismo cultural na TV.

De fato, segundo a programação, estava prometida uma palestra sobre jornalismo cultural da TV. O que acontece é que Goldsztejn também faz parte da equipe do Entrelinhas, da mesma Cultura. E diante do inegável desgaste do Metrópolis, é tentador, praticamente irresistível, falar do mais recente e fresco Entrelinhas, programa sobre literatura (embora houvesse na programação do curso, no dia seguinte, uma palestra só para abordar literatura na TV).

Goldsztejn é adepto da idéia do teórico Marshall McLuhan de que o meio é a mensagem. É dizer, em outras palavras, que a culpa da superficialidade é mesmo da TV. Para ele, assistir televisão "não é como ir ao cinema ou ao teatro, que é um ritual. A displicência e ligação com o meio é diferente". E o jornalismo mais direto, recortado e ofegante, nessa lógica, é mais fácil e gostoso de assistir. Pena, sofrem os espectadores. Reportagens mais leves não necessariamente significam reportagens mais superficiais. E um dos fatores de sucesso e sobrevivência do Metrópolis, citado na palestra, é o fato de sempre ter despertado interesse de patrocinadores e apoiadores culturais. "Essa relação da TV com o mercado sempre existiu", diz Goldsztejn. "Eu trabalho numa TV pública que agora também tem patrocínio e também depende do mercado".

Pode até ser. É compreensível que a diferença de ritmos e equipes não permita um produto tão bem acabado no jornalismo diário. A produção do Metrópolis envolve 12 pessoas, com duas inserções por dia; no Entrelinhas, são cinco os responsáveis pelo programa semanal. Isso sim, e não as características do público e da TV, justificam as diferenças. O que, de todo jeito, é uma pena.

Verônica Mambrini
5/10/2006 à 00h07

 

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