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Quinta-feira, 12/10/2006
Dia do Sabino
Rafael Rodrigues

Hoje, dia das crianças, é também o dia do Sabino, do Fernando Sabino, nascido há exatos 83 anos.

Conhecido por seu bom humor e por sua sagacidade, Fernando Sabino era - e continua sendo, claro - um grande contador de casos. Abaixo, alguns "causos" do escritor mineiro:

Equívocos
"Concordo com Hemingway, quando diz que toda relação pessoal entre o escritor e o leitor nasce de um equívoco ou gera um [outro] equívoco. Reconheço, como uma espécie de fatalidade, que sou vítima habitual de equívocos.

Ainda outro dia fui me registrar num hotel em Parati e a mocinha, ao ver meu nome, me perguntou se eu era parente do escritor. Disse-lhe que era o escritor. E ela:

- Você também escreve?

Mostrei-lhe o meu retrato na contracapa de um livro. Ela se limitou a dizer com ironia:

- Até parece, não é?

Quando afinal começou a acreditar, ficou me olhando como se eu fosse uma assombração, antes de conseguir perguntar, olhos arregalados:

- Você não morreu, não?

Quase lhe pedi perdão por continuar vivo."

Sabiá
"Antes de dar partida [na Editora Sabiá, a segunda - e última - que Sabino e Rubem Braga montaram juntos], desta vez tivemos o bom senso de procurar alguns entendidos - e recolhemos ensinamentos preciosos de outros editores: meu velho amigo Jorge Zahar, a quem devo o ensinamento de que editora é jogo, daí o seu fascínio; Ênio Silveira, da Civilização Brasileira, outro velho amigo, a quem devo a primeira edição de O encontro marcado; José Olympio, a quem devo a primeira edição de A Marca. Este foi tão enfático em nos recomendar cuidado que por pouco não fundamos a Editora Cuidado.

Mas Rubem queria Sabiá, e Sabiá ficou sendo. A Editora Brughera já tinha este título registrado e gentilmente nos cedeu.

Fizemos tanta onda com essa história de sabiá que Borjalo, depois de pegar um sabiá numa arapuca em sua casa, sugeriu pela TV Globo que mandassem sabiás para o Rubem. O sabiá da crônica começou a receber sabiá de presente de tudo quanto é lado. A certa altura chegou seriamente a me propor que, em vez de editar livros, passássemos a negociar com passarinhos."

Quatro amigos
"(...) posso afirmar que, se eu não tivesse conseguido mais nada na vida, esta relação tão duradoura de quatro amigos já teria sido o melhor que eu poderia desejar neste mundo. Espero que tenha sido assim também para eles [Sabino se refere a Otto Lara Resende, Hélio Pellegrino e Paulo Mendes Campos, amigos de toda uma vida]. É o que nos faz recuperar a criança dentro de nós, e sinto que me permitirá morrer em paz. Já tenho até meu epitáfio:

'Aqui jaz Fernando Sabino.
Nasceu homem, morreu menino'
"

Nota do Autor (do Post)
Trechos extraídos de O tabuleiro de damas (Record, 1999, 224 págs.)

Rafael Rodrigues
12/10/2006 às 12h10

 

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