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Segunda-feira, 26/2/2007
Um bom par de tênis
Julio Daio Borges

Estou arriscando uma nova prática. Descobri que, depois de tanto tempo com as caminhadas, sou capaz de correr. Longe de ser um "forrest", mas já consigo dar duas voltas no parque farroupilha sem desabar em cansaço. Fico um farrapo pelo suor, mas com alguma quantidade interessante de endorfinas circulando pelos neurônios. Minha nova droga. Gratuita. Uma droga de consumo livre, sem restrições.

As caminhadas eram a razão. Observava os ambientes, os contrastes. Ouvia até mesmo os pássaros, e podia ler alguma placa com o RG da árvore. Podia acompanhar o emagrecimento da menina. Conseguia até mesmo ouvir seu iPode gritando nos ouvidos, como um professor na aula de localizada.

Percebia o passar das semanas pela mãe, grávida de sete ou oito meses, que agora caminha empurrando o filho no carrinho. Percebia as ofertas, os alunos debandando na saída da aula, os encontros e as brigas. Caminhar é enviar uma carta para si mesmo. É escolher as frutas com calma, sem apertar. Caminhar é mastigar antes de engolir. É trocar o barulho do vento pelo silêncio. É focar o horizonte com grande angular.

A corrida se tornou meu sentimento. Minha paixão. Detona a razão pela imersão em endorfinas. Tudo que percebia nas caminhadas passa depressa demais. Não me apego mais aos detalhes. O mastigar dos pés na areia ficou mais voraz. Não sinto o gosto. Me sacio. As placas não servem mais como sinalização. São pequenos traços, borrões. Correr é estar apaixonado. É observar o horizonte em zoom. Difícil perceber o que acontece próximo de nós. É dar palpite sem pensar. É andar de mãos dadas com a imaginação. É desconfiar da raiz, e simplesmente passar por cima, sem desviar. Correr é acelerar os sentimentos, sem medo de escorregar em dúvidas.

Rocha, no Síntese, que linca pra nós (porque, às vezes, parece o Carpinejar...)

Julio Daio Borges
26/2/2007 à 00h10

 

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