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Quinta-feira, 1/3/2007
Obsessão por números
Ram Rajagopal

Bom, eu já disse em algum lugar que o Brasil é o pais do achismo. Que faltam números, estatísticas, informação para embasar opiniões e pontos de vista. Isto não quer dizer que precisam fazer como na coletiva de imprensa "Panorama 2007", promovido pela Deloitte Touche ontem.

A coletiva foi para apresentar os resultados de uma pesquisa com empresários sobre o estado da indústria privada no Brasil, e as expectativas. Fomos apresentados, slide após slide de números, a algumas informações pertinetes, e muitas outras nem tanto. Os números, o excesso deles, sem descobrir nenhuma novidade, sem mostrar nada além do que já se sabia antes, foram a justificativa para reunir um monte de jornalistas numa sala. Eu acredito que eles foram lá porque recebem para preencher as páginas monótonas da seção de economia. Depois da apresentação as únicas perguntas que passaram pela moderadora foram perguntas pro forma, aquelas típicas do atual estado do jornalismo brasileiro, como por exemplo "no slide 19 você disse que o crescimento será de 18.5%. É anual ou crescimento em ano de caixa?".

Infelizmente as duas perguntas que fiz, foram respondidas com "este tema não foi abordado no estudo". Ou seja: se não houve uma questão do tema na ficha de questionário enviada aos empresários, não existe a menor hipótese do consultor ter uma opinião sobre o assunto baseado em sua experiência... Uma das perguntas se referia ao investimento empresarial no ramo de cultura. No Brasil, nos ressentimos da ausência de verdadeiros empreendimentos privados em cultura. Somos uma espécie de capital do comunismo cultural, e quase todos os projetos que andam são paitrocinados pelo governo. Mas existe um mercado grande para produtos culturais. Será que empresários pensam em investir nele seriamente, para ter lucro?

Estar preso a números, e gráficos, é tão ruim quanto estar preso a achismos... A única conclusão que eu tirei da coletiva de ontem é que realmente o jornalismo no Brasil chegou ao fim da linha, se depender dos jornalistas presentes na coletiva. Estadão, Folha, Veja, todos lá presentes, mas nenhum deles preparados nem com perguntas incisivas, nem com entusiasmo... Um festival de burocratas apagados. Tudo bem que a coletiva foi chatíssima. Mas não seria o caso de torná-la interessante baseando-se na cultura pessoal de cada um? De repente, estou mal acostumado com os meus ambientes de trabalho...

Post Scriptum
Este comportamento incolor dos jornalistas explica porque o único e maior anunciante da maioria das publicações é o governo, que com verba pública compra a consciência da maioria dos editores. Afinal, quem sua para ganhar seu dindim privado, não vai investir em uma mídia que não chama a atenção, e cujo maior valor é tentar permanentemente manter o status quo à base da antigüidade... Já dizia um técnico de futebol: se antigüidade escalasse jogador, Matusalém era titular no meu time.

Ah, sim, houve uma pergunta sobre educação... que foi tão boa, mas tão boa que, no afã de não desagradar a ninguém, o apresentador a deixou sem resposta...

Nota do Editor
Leia também "Cacá Diegues e os jornalistas"

Ram Rajagopal
1/3/2007 às 08h11

 

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