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Quarta-feira, 18/4/2007
Pena de Aluguel
Julio Daio Borges

Para mim, a influência do jornalismo na literatura não tem nada a ver com a linguagem, mas com a experiência. O jornalismo permite entrar em contato com pessoas e situações sobre as quais você não faria a menor idéia se não fosse pelo pretexto da reportagem. Ele funciona como uma fonte de histórias e experiências. Nesse caso, ele pode ter um papel vital e decisivo para literatura. Não é, porém, uma exclusividade do jornalismo. Outros escritores podem se servir da experiência da medicina ou de qualquer outra profissão que os faça entrar em contato com um mundo que não é o deles. O importante é que não haja regras. Qualquer meio de contato com outras pessoas e situações é interessante para a literatura.
Bernardo Carvalho

Quando saio do jornal muito tarde e escuto as rotativas, tenho a certeza de que o livro é superior ao jornal. As rotativas dão a dimensão da diferença: o jornal de hoje já está velho no momento em que roda. O livro fica e fica. Se fosse diferente, a gente teria de guardar infinitamente jornais e jornais. Mas tudo é datado, tudo já aconteceu. Nos livros, tudo está acontecendo. Sempre, em tempo integral.
Cíntia Moscovich

Eu não usaria essa palavra, superior... Objetivamente, uma vantagem do livro é a permanência. mas se o livro for ruim, isso se volta contra o autor, naturalmente. Num jornal você até pode escrever uns textos mais fraquinhos, ou algumas bobagens, sem maiores conseqüências. Mas o que você escolhe incluir num livro de certa forma pode formar a sua imagem para a posteridade, se é que ainda existe posteridade.
Luciano Trigo

É só uma questão de nomenclatura. O que é um "escritor"? Se é alguém que escreve, que passa pelo processo de criação do texto, claro que o jornalista é um escritor - às vezes, escrevendo uma crítica de cinema, sofro de uma angústia parecida com a que um texto literário me impõe. A diferença é que a angústia do texto jornalístico dura duas horas ou dois dias. No Música anterior, durou um ano e meio. No romance que estou escrevendo agora, já tem um ano, aproximadamente, sem que eu tenha definido sequer o tom do texto, para onde os personagens vão etc. Em suma: o sofrimento da literatura pode ser absolutamente em vão (será, por exemplo, se eu jogar fora este novo romance, ou se ele não ficar da maneira como eu quero que fique). O do jornalista nunca é: o artigo sai de qualquer jeito, sempre. E é remunerado decentemente, claro.
Michel Laub

* * *

Trechos de entrevistas que encontrei num site de Cristiane Costa.

Julio Daio Borges
18/4/2007 à 00h12

 

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