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Quinta-feira, 26/4/2007
Violência, violência
Fábio Scrivano

O assunto é velho, mas sempre volta à tona. O massacre de estudantes na Virginia reabriu a discussão sobre a influência do cinema sobre o comportamento dos cidadãos na vida real. O assassino sul-coreano era aparentemente fã de Oldboy (2003), uma violenta história de vingança dirigida por um compatriota. Anteriormente, especulou-se sobre a associação entre o tiroteio do Shopping Morumbi e Clube da luta (1999).

Não sou psicólogo e não tenho, portanto, o menor embasamento teórico ou prático para discorrer sobre os malefícios da indústria do "entretenimento", sobre a real influência de um filme, música ou vídeo-game nas atitudes de uma pessoa. Eu mesmo, quando adolescente, adorava filmes de terror, mas não me tornei psicopata e hoje em dia sou incapaz de suportar cinco minutos das matanças de Jason e similares. Mesmo o celebrado Psicose (1960), de Hitchcock, com suas facadas pioneiras, não me atrai tanto quanto outros títulos do Mestre do Suspense.

Por outro lado, é impossível não se surpreender com o sucesso de produções que exploram o pior do ser humano e buscar explicações para o inabalável fascínio do espectador por esse tipo de espetáculo. Por que alguém, acossado diariamente por notícias terríveis, paga quinze reais por um ingresso de Jogos mortais ou O Albergue, duas horas de tortura, na tela e na poltrona? É o mesmo mecanismo psicológico que nos leva a andar de montanha-russa?

Cinema é diversão e também reflexão. A violência é fato inescapável da vida e é extremamente importante que artistas também discutam os aspectos menos agradáveis da existência. Os dois melhores filmes de 2005 na minha opinião (Munique, de Spielberg, e Crash, de Paul Haggis) são exemplos de como é possível transformar a dura realidade em arte, contextualizando e expondo com inteligência o momento conturbado que o mundo atravessa. É uma pena que um ano depois de premiar Crash, a Academia de Hollywood, aplicando mais uma vez sua notória política de "Oscar por compensação", tenha dado a principal estatueta da cerimônia para o repulsivo Os Infiltrados, enésima demonstração do prazer mórbido de Martin Scorsese, um cineasta tecnicamente brilhante e um admirável preservacionista, com a violência.

E o círculo vicioso continua em 2007. Enquanto as bilheterias forem positivas, os estúdios vão investir no filão sanguinolento. Atualmente, o filme mais visto nos Estados Unidos é Disturbia, que segundo um crítico de lá, começa como Janela Indiscreta e termina como Sexta-Feira 13. O mais elogiado, no entanto, é Zodiac, mais uma incursão de David Fincher (Seven, Clube da luta), ao mundo dos serial killers. E por falar em assassinos em série, está estreando no Brasil Hannibal - Origem do Mal, sobre a juventude do personagem de O silêncio dos inocentes.

Responsabilidade social é algo muito bonito, mas não tanto quanto o tilintar contínuo das caixas registradoras. E a onda de pacifismo e sentimentos nobres que tomou conta do cinema americano imediatamente após o 11 de setembro? Desapareceu, junto com Bin Laden.

Fábio Scrivano
26/4/2007 às 15h55

 

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