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Sexta-feira, 27/4/2007
Wikipedia: prós e contras
Daniel Bushatsky

Minha primeira vontade ao me deparar com o tema da Wikipedia - a enciclopédia livre, ou Wiki para os íntimos, foi criticá-la. Questionar a validade de seus artigos/verbetes, a qualificação de seus editores (todos podem inserir textos na enciclopédia), e a capacidade técnica e os meios de captação de seus revisores.

Depois me veio à idéia de que a Wiki poderia ser uma boa primeira fonte de pesquisa. Nela qualquer estudante ou curioso poderia ter a oportunidade de saber as primeiras linhas da matéria desconhecida.

Se a informação era 100% confiável não importa. Em questão de segundos, você pode saber a definição de qualquer coisa, a história dos países, ou mais de três milhões de outras informações.

Ora, um mundo dinâmico como o nosso não pode querer outra coisa.

O problema começa a aparecer quando nos questionamos se as pessoas que acessam a maior enciclopédia do mundo têm senso crítico e cultura para avaliar e utilizar as informações absorvidas.

No Brasil, por exemplo, a questão é complicada. O IBGE informa que em 2002 o país tinha 32,1 milhões de analfabetos funcionais, ou seja, 26% da população de 15 anos ou mais de idade. Mas o que isso significa?

Segundo a UNESCO, analfabetos funcionais são as pessoas com menos de quatro anos de estudo. Para a organização, mesmo que essas pessoas saibam ler e escrever frases simples, elas não possuem as habilidades necessárias para satisfazer as demandas do seu dia-a-dia e se desenvolver pessoal e profissionalmente.

Imaginem estas pessoas lendo uma informação errada. Como checariam a informação? Pior, na certa a transmitiriam como uma verdade indiscutível e absoluta, com o argumento que haviam lido em uma enciclopédia!

Estaríamos gerando uma pseudocultura, um falso conhecimento, modificando, assim, conceitos muitas vezes importantes para o desenvolvimento do ser humano e da sociedade.

Caro leitor, desculpe a interrupção na leitura do texto, mas quero fazer duas ressalvas, a primeira para o senhor não me taxar de ingênuo e a segunda para ver minha preocupação com a cultura no Brasil.

Coloco os dados do IBGE sobre analfabetismo funcional não porque considero que os leitores da Internet são, em geral, estes. Pelo contrário, até imagino que o analfabeto funcional pouco ou nunca acesse a rede mundial, mas se 26% da população pouco entende o que lê, imagino que, infelizmente, boa parte do restante da população não seja muito diferente.

A segunda justificativa é que o dado trazido pelo IBGE é muito triste. Analfabetos funcionais decaem o nível da mão-de-obra do Brasil, não vão ao cinema e ao teatro e, pior, mal conseguem pegar o ônibus certo para irem para casa.

Por outro lado, continuando o texto, poderíamos colocar uma dose de otimismo nisso tudo. Quem sabe estaríamos gerando uma sociedade crítica, capaz de analisar um texto e interpretá-lo. O que fosse ruim seria automaticamente descartado pelo nosso imenso e perspicaz cérebro.

Outro problema se instala: quantos sabem que as informações colocadas na Wiki não são 100% confiáveis? Em conversas informais com amigos, alguns universitários, outros até já formados, muitos não sabiam desta característica da enciclopédia, confiando irrestritamente nas informações provindas do site.

Talvez a solução para este problema fosse a obrigatoriedade de na tela deste monstruoso acervo humanista haver em letras garrafais "Cuidado, nem toda informação aqui é confiável - antes de utilizá-la, pense bem".

Bem que esta máxima deveria estar colada em outros lugares também, você não acha?

Daniel Bushatsky
27/4/2007 às 11h14

 

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