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Quinta-feira, 10/5/2007
Permitir-se
Elisa Andrade Buzzo

No cruzamento tinha um sinal, mas, como de costume na grande cidade, os pedestres circulavam da maneira como bem entendiam. A obediência requerida ao vermelho não é seguida, a máquina que funciona é a da percepção espacial: o carro longe do alcance do corpo. O livre-arbítrio permite que nem sempre se atravesse na faixa de segurança. Na confusão do trânsito, casais se separam, às vezes voltam a se encontrar em meio às buzinas, crianças se perdem. Quem sabe um motorista desavisado da pureza não tenha tempo de parar. Outro, alucinado, apesar do amarelo piscando a todo instante, mantenha sua trajetória. Alguém já pensou que, quando o amarelo pisca, seus olhos podem estar se fechando no exato momento? Ou então, é a alta velocidade que o cega, seu destino invisível.

A cidade em força esplendorosa nas ruas e pontes e avenidas - mundo moderno de sempre, que não espera para acontecer. A vibração urbana arrastando os sentimentos. Flecha em chamas. Corpos sombreando estreitas calçadas plenas de segredos. Os conflitos e dúvidas pisaram-nas, inculcando pedaços de loucura e sujeira. A escuridão só não é total por causa das inúmeras luzes vermelhas tremulando inconscientes. Vertiginosa velocidade, perpassar por ela com os olhos fechados causa intenso prazer. Poucos são os que se lançam ao mar vermelho de carros.

Imunes ao barulho, dois pontos permanecem, cada um dentro de si num turbilhão de pensamentos. A visão da cidade exaltando os sentidos: algo nela se alinha com parte de nós. Atravessamos sempre no caminho livre.

As ruas, estas, lançam sinais de desconforto, despedida e alívio.

Elisa Andrade Buzzo
10/5/2007 às 12h49

 

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