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Quarta-feira, 30/5/2007
Um Lobo nada bobo
Rafael Fernandes

A notícia, no final do ano passado, causou certo frisson: Lobão gravaria um acústico MTV, que seria lançado por uma major. Sim, o mais ferrenho crítico das grandes gravadoras registrando um dos mais desgastados formatos de disco. Houve grita, chiadeira, risinhos irônicos, "eu não falei!?" diversos. Eis que neste 2007 saiu o disco. E é ótimo! Mantém-se bem da primeira à última faixa e passa longe da pasteurização - tem vida, tem cor, é uma delícia de ouvir.

Não há dúvida: é sim uma incoerência de discurso. Não adianta o compositor descascar seu falatório verborrágico-ácido para se justificar, não adianta resmungar que cansou de falar - depois de querer sempre falar durante seus quase 10 anos independente, pois é injustificável. Mas nem por isso reprovável. Afinal, quem faz canção popular quer é ser ouvido, cantado e comentado. Quem disser algo contra ou está maluco ou faz tipo. E Lobão não é bobo. Sabe que é uma grande chance não só de exposição, mas de certa justiça com suas canções da época da "independência", que são ótimas: A vida é doce, de 1999 (vendido em bancas, acompanhado de revista/encarte) e Canções dentro da noite escura, de 2006 (lançado junto com a revista idealizada pelo cantor, Outra Coisa) são excelentes álbuns e podem ser colocados no topo de sua discografia, com canções certeiras. E em Lobão Acústico MTV o compositor usa de ironia e inteligência na escolha do repertório: não à toa abre o disco com "El Desdichado II", música que também inicia seu primeiro independente; termina com "A gente vai se amar", que fecha seu último fora das majors (pelo menos até agora...). Coloca de uma vez só, seguidas, três de suas músicas mais conhecidas "Por tudo o que for", "Noite e dia" e "Me chama", "esmagadas" entre a potência das "desconhecidas" "Quente" e "Você e a noite escura", de seu último disco. E o single é "Vou te levar", bela canção de amor de A vida é doce, que finalmente tem a exposição que merece.

Os contrapontos entre as músicas antigas e as mais recentes criam um buraco entre elas: as "novas" são muito mais maduras e densas e as de outrora apresentam um clima mais festivo e temática boba. Mas isso não significa que sejam desprezíveis, claro que não. "Me chama" e "Essa noite não" continuam aquela bobeira boa de ouvir; "Do jeito que for" mostra como Lobão sabe fazer uma bela canção pop de amor.

Da produção mais recente, algumas perderam um pouco em relação às gravações originais. "El Desdichado II" e "A vida é doce" são exemplos: sem a crueza e peso originais ficam menos impactantes. Por outro lado, "Vou te levar" e "A gente vai se amar" alcançaram, no arranjo acústico, status de "definitivas", ainda melhores que as gravações originais. A primeira ganhou uma plenitude que não havia na original; já a que fecha o disco teve suas intenções harmônica e melódica ressaltadas. Enfim, o que vale é a música e não a polêmica. Que a partir desse acústico, Lobão seja menos avaliado pelo discurso (culpa dele, também) para voltar a ser visto pelo que sabe fazer de melhor: grandes canções pop.

Rafael Fernandes
30/5/2007 às 16h37

 

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