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Sábado, 9/6/2007
Rio das Ostras Jazz&Blues III
Marília Almeida

Ontem à noite houve algo novo e rejuvenescedor no ar musical de Rio das Ostras: a banda Soulive e Stefon Harris Quartet, ambas compostas por músicos jovens, talvez o maior motivo para sua inovação e frescor.

Mas antes, na Praia da Tartaruga, teve o free jazz de Ravi Coltrane, filho do saxofonista e compositor norte-americano John Coltrane. Diante de um espaço lotado e um entardecer com uma fina neblina e céu de tom róseo, Ravi desempenhou uma performance soft e seu grupo, com destaque para o piano de Luis Perdomo, não perdeu a harmonia e, pelo contrário, criou ritmo próprio até em suas pausas, com batidas fortes e secas da bateria de E.J. Strickland, produzida com a ajuda de um revestimento nas baquetas.

Apesar de Ravi ter convivido pouco tempo com o pai, pois tinha dois anos quando morreu, herdou sua técnica, assim como de nomes como Sonny Rollins e Wayne Shorter, para criar seu estilo. Assumindo a influência e atendendo às expectativas gerais, Ravi tocou uma música de seu pai no bis. Sua passagem pelo país marca o lançamento do seu novo CD, In Flux, seu quarto trabalho solo.

À noite, mais quente que as anteriores, tanto no clima quanto na música, quem abriu foi o Stefon Harris Quartet, ovacionado pela platéia que já havia conferido sua performance ontem à tarde na Praia da Tartaruga. De cara, Stefon surpreende: o músico de 34 anos consegue trazer o vibrafone para a linha de frente do jazz. O som, concomitante ou individual, de um instrumento composto por uma estrutura de madeira e outra de metal resulta em um som etéreo e delicado, influenciado por Lionel Hampton e Milt Jackson.

Outra coisa que chama atenção é a introdução de tecnologia no som do grupo. Marc Cary foi dinâmico ao manejar, além do piano, um teclado ligado a um laptop, que reproduz o som de instrumentos antigos. A energia e simpatia de Stefon é desproporcional ao seu tamanho: junto com o toque do vibrafone, canta baixo, mas com vigor. Após indicações ao Grammy de Melhor Solo Instrumental e Melhor Álbum, anunciou seu quinto CD, African Tarantella.

Em uma noite com atrasos menores, o blueseiro Roy Rogers entrou no palco logo depois. Apesar de um problema de microfonia na primeira música, deixou o público extasiado e com olhar vidrado em seu rápido dedilhado. Em dois momentos, utilizou a guitarra dupla e seu repertório consistiu em músicas como "Terraplane Blues", que terminou com um bis dedicado às crianças em zonas de conflito, um solo que terminou rápido e repentino. Um contagiante boogie woogie finalizou o espetáculo.

Por fim, fechando a noite com estilo, o Soulive surpreendeu com seu groove que passa por diversos ritmos e pode ter uma pegada rock, reggae e até de r&b, apesar de ter o soul, o funk e o jazz como suas principais fontes. A ausência do baixo é logo sentida, mas contornada com criatividade pelo teclado de Neal Evans, que reproduz o seu som.



Antes apenas instrumental, a banda introduz agora o vocal afinado, o gingado e carisma de Toussaint em vários momentos, complementado por grandes solos de guitarra de Eric Krasno, que faz referências a bandas como de Red Hot Chili Peppers e Black Sabbath. Seu repertório incluiu, entre outras, músicas de seu último álbum, No place like soul, que será lançado no dia 31 de julho, com destaque para as faixas "Mary" e "Comfort". No bis, "The ocean", do Led Zeppelin, foi executada em uma performance impecável. O maior mérito do Soulive, por fim, é conseguir tornar o jazz palatável ao público, que respondeu dançando aos gritos de groove on.

Hoje à noite o show continua com Luciana Souza em um duo com Romero Lubambo, Robben Ford e nova apresentação de Ravi Coltrane e Michael Hill. Amanhã ainda serão realizadas apresentações de Dom Salvador e Robbem Ford. Aguarde um balanço dos shows da última noite do festival e uma análise do evento.

Marília Almeida
9/6/2007 às 16h40

 

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