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Quinta-feira, 21/6/2007
Lauryn Hill no Tom Brasil
Débora Costa e Silva

Instrumental encobrindo o vocal; platéia lotada; muita gente passando mal; uma cantora frenética que pulava e dançava no mesmo ritmo e intensidade das batidas da bateria e do DJ; músicas cansativas de dez minutos cada, cheias de improvisos e arranjos que destoavam das gravações originais.

Se tivesse que resumir o show do dia 14 de junho que aconteceu no Tom Brasil, seriam esses os destaques. Lauryn Hill, em sua primeira apresentação em São Paulo, decepcionou muitos com seu atraso, improvisos cansativos e excesso de estrelismo*. Por outro lado, sua energia no palco, a qualidade da banda de treze integrantes (dois tecladistas, um DJ, um guitarrista, um baterista, uma percussionista, dois baixistas - acústico e elétrico -, trios de metais e três backing vocals) e o próprio talento ganharam os fãs, já cansados de esperar por sua aparição, que aconteceu depois de quase duas horas.

Mesmo após a entrada dos integrantes da banda no palco, a cantora ainda esperou uma jam session, com duração de quinze minutos em média, para finalmente aparecer e soltar a voz. Ela começou vocalizando algumas frases, improvisando junto com a banda, mas quase não se ouvia sua voz, pois o som da banda estava muito mais alto do que de seu microfone. Uma pena.

Na verdade, em boa parte das canções o instrumental estava encobrindo a voz de Lauryn. Ela mesma pediu à banda no meio de uma música: "Easy, easy! I want the people listening what I sing!". Creio que esse problema técnico se deu pelo fato de que o espetáculo foi feito para ser executado em um espaço maior, como em um estádio. A casa não tem espaço para "abrigar" um show desse porte.

Mas, além desse problema técnico, outro fator incomodou os ouvidos dos fãs: os arranjos. Muitas músicas tiveram uma nova roupagem, foram prolongadas e ganharam improvisos. Até aí, nenhum problema, se não fosse pelo fato de que ficou impossível acompanhar as músicas, muito diferentes das gravações originais.

Se não fosse a primeira turnê da cantora no Brasil, creio que não haveria nenhum incômodo por parte do público. Como em todos os shows internacionais que vêm ao Brasil, os fãs querem ouvir as músicas mais conhecidas, querem cantar junto, enfim, identificar o som para curtir melhor os espetáculos, que, no caso da Lauryn Hill, não acontecem com freqüência em nosso país. Mas não foi o que ocorreu.

Depois de cerca de meia hora, cansadas de esperar por músicas mais conhecidas, muitas pessoas começaram a sair do local, ou para ir embora ou porque estavam passando mal, afinal o local estava muito cheio. Assim, a platéia ficou mais vazia - sorte de quem resistiu.

A showgirl
A primeira música que agitou o público foi "Lost Ones", do primeiro disco solo da cantora, The miseducation of Lauryn Hill, mas bem mais rápida do que a original. "Ex-factor" e "To Zion", ambas do mesmo álbum, também animaram os fãs.

A fusão de ritmos como funk, rap, raggae e soul, típica de seu trabalho, estava presente em todas as canções apresentadas. Mas o ritmo jamaicano teve um espaço significativo no show. A nora de Bob Marley (Lauryn é casada com Rohan Marley) prestou uma homenagem ao sogro, cantando uma seqüência de quatro músicas suas: "Iron Lion Zion", "Trenchtown", "Zimbabwe" e "Hammer". Destaque para a interpretação a capella de "Zimbabwe", prolongando o refrão e deixando soar a frase "Fight for our rights" ("lutar pelos nossos direitos") diversas vezes, como que para reforçar sua ideologia.

Após estas interpretações, Lauryn fez uma viagem de volta às origens e cantou uma série de músicas de sua ex-banda, The Fugges. "How many mics", "Fu Gee La" e "Zealots" deram início à seqüência, todas muito mais aceleradas. O sucesso da década de 1990 "Ready or not" empolgou de vez o público, conseguindo levantar muitos dos que estavam espalhados pelos cantos e chamando a atenção dos que há muito tempo haviam desistido de acompanhar o show.

No intervalo que fez para depois voltar com o bis, os fãs, que já sabiam qual seria a próxima música, começaram a cantar o refrão de "Killing me softly". Como que atendendo aos pedidos, Lauryn voltou ao palco para cantar essa canção, que foi um grande sucesso em sua voz, ainda no Fugges. Esse foi o grande momento da apresentação, em que o coro do público se encontrou com a bela e emocionada interpretação da cantora.

Ela ainda cantou uma música nova, "Lose myself", uma balada romântica que é trilha sonora do filme Tá dando onda, cuja previsão de estréia no Brasil é em outubro. Finalizou com "Doo Wop (That Thing)", outro sucesso de seu primeiro disco solo. Do seu último CD, o Unplugged MTV, a cantora ficou devendo: não tocou nenhuma.

As músicas finais do show deram aos fãs uma recompensa pela espera e pelo repertório carente de hits. Mas um fator não se pode negar: Lauryn é brilhante. Ótima voz, presença de palco indiscutível e se mostrou uma verdadeira regente da banda. Ela ordenava a queda da dinâmica, a entrada e saída dos instrumentos na música, na performance. E era essa a impressão que dava, que estava em transe durante todo o show.

Em alguns momentos, parecia que a apresentação era para satisfação própria e da banda, pois eles não pareciam se importar se o público acompanhava ou não, só curtiam o som que faziam. Apesar do problema com o volume dos instrumentos, a qualidade da banda é indiscutível. Profissionalismo de primeira, um espetáculo incrível, coisa ainda um pouco rara no Brasil.

* Uma das produtoras brasileiras do show, que não quis se identificar, revelou que Lauryn fez algumas exigências absurdas. A primeira é que fez mudar todas as placas em que estava escrito seu nome, Lauryn Hill, para "Miss Lauryn Hill". A outra, mais absurda ainda, é que exigiu que apenas pessoas da raça negra trabalhassem na produção diretamente com ela. Sim, senhora, Miss Lauryn...

Débora Costa e Silva
21/6/2007 às 18h50

 

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