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Segunda-feira, 2/7/2007
1º Festival de Samba Paulista
Débora Costa e Silva


Dona Iná e Teroca garantiram o 1º lugar

Um festival que premia compositores e intérpretes do ritmo tido como o mais representativo do Brasil: o samba. O local? TUCA (Teatro da Universidade Católica de São Paulo), teatro que já abrigou festivais lendários na época da ditadura militar. As pessoas? Gente da capital e do interior, veteranos e novatos, estudantes e amadores. Esse foi o 1º Festival de Samba Paulista.

É fato que em São Paulo existem compositores novos fazendo samba de qualidade. Mas esse Festival veio para colocar a cidade como um dos pólos culturais de samba no país e divulgar o que essa geração de artistas vem fazendo por aí e o que a grande mídia não revela. Mas, apesar da belíssima iniciativa, ficaram faltando representantes de grupos da periferia, como os do Samba da Vela, Comunidade do Cafofo e Samba da Laje, entre outros.

O evento ocorreu nos dias 26 e 27 de junho e contou com 263 composições inscritas, 12 semifinalistas e 6 finalistas. Conduzido pelo jornalista e apresentador de festivais do interior, Clóvis Guerra, o Festival, realizado pela MMP Produções e Eventos em parceria com a Secretaria de Estado da Cultura, distribuiu R$ 12 mil reais em prêmios aos vencedores.

Presidido por Eduardo Gudin, o júri foi composto pelo historiador e radialista Moisés da Rocha, pelo compositor e diretor da gravadora Dabliú, José Carlos Costa Neto, e pelo cantor e compositor José Luiz Mazziotti. Além da apresentação dos sambas classificados, na terça-feira teve show dos Trovadores Urbanos e na quarta-feira, de Paulo Vanzolini.



A grande estrela da noite foi a cantora Dona Iná, de 72 anos, premiada como melhor intérprete do Festival e que garantiu o primeiro lugar a canção "Bamboleio". Ela iniciou sua carreira na década de 1950, interrompeu por um longo tempo e voltou em 2004, com o lançamento do seu primeiro disco Divino samba meu.

A música que cantou no Festival de Samba Paulista teve um significado especial. Foi por meio dessa canção que ela conheceu o Teroca, o compositor de "Bamboleio". Daí surgiu a amizade e a parceria, que rendeu frutos colhidos no evento paulista. "O samba, como Noel Rosa dizia, não tem barreiras: ele nasce no coração. Basta saber fazer", filosofou Teroca.


Cupinzeiro ficou com o 2º lugar e a melhor letra

O segundo grande destaque do evento foi o grupo de Campinas Núcleo de Samba do Cupinzeiro, que se dedica a pesquisas sobre o samba. Eles levaram o prêmio de melhor letra e ficaram em segundo lugar com a música "Lamento Negro", interpretada pela cantora Anabela, também integrante do Núcleo.

"Apesar de ser popular, o samba não tem o espaço merecido e um festival como esse ajuda a mostrar que existem compositores fazendo música de qualidade e que, por falta de oportunidade de mostrar seu trabalho, acabam esquecidos", afirmou Bruno Ribeiro, autor de "Lamento Negro". "Este festival só nos dá uma certeza: de que não estamos sozinhos, de que estamos no caminho certo, preservando a cultura popular", comemorou Moisés, que entregou o prêmio ao grupo.



O terceiro lugar foi do veterano Waldyr da Fonseca, que já compôs sambas conhecidos como "Samba pra inglês ver" e teve músicas gravadas por Leny Andrade, Beth Carvalho, Arrigo Barnabé, entre outros. Sua canção, "Chá de sumiço", foi interpretada belamente por Bruno De La Rosa, jovem cantor e compositor de Santos. "Eu sinto que a luta da gente no passado não foi em vão. Hoje eu posso dizer que o samba venceu", disse Waldyr, emocionado.

O samba romântico "Início de caso", de João Bid e Robson Silvestrini (ambos do grupo vocal Catavento) ficou em quarto lugar, seguido do partido alto "Brinquedo da noite", de Teleu (integrante da ala dos compositores da Vai Vai), Claudinho Poco Dedo e Sanvita, em quinto, e o samba funkeado "Pimenta", de Dimi Zumquê e Josias Damasceno, em sexto. As seis composições finalistas eram muito boas, de fato, cada uma de uma vertente diferente do samba.


Waldyr e De La Rosa recebendo o prêmio de 3º lugar

Cadê a comunidade?
O Festival surgiu com o objetivo de dar mais espaço e divulgação aos sambistas de São Paulo. No entanto, ficaram faltando representantes das comunidades da periferia que têm feito samba de raiz e revelado novos compositores na cidade. Faltou o tal do samba, aquele feito por grupos de classe social mais baixa, usando a música para retratar o cotidiano popular e suas mazelas. Aquele cantado pelo povo.

De acordo com José Marilton da Cruz, o Chapinha, um dos fundadores do Samba da Vela, os sambistas dessas comunidades não chegaram nem a se inscrever, pois não tiveram conhecimento desse Festival. "Eventos com esse perdem a essência por não incluír todos os movimentos paulistas de samba que acontecem em diversas comunidades", critica.

O fato é que faltou mais divulgação para que o Festival pudesse englobar todas as vertentes, movimentos e compositores de São Paulo, representando de verdade o samba que é feito aqui. Mas de acordo com Moisés, a direção do evento já foi alertada para que isso não ocorra nas próximas edições. "Esse Festival foi o primeiro passo, o embrião. É um ensaio que tende a aglutinar pessoas que defendem o samba e lutam pela cultura popular", argumenta.

Gudin assina embaixo. "A comunidade do samba teria que participar mais. Mas o universo do samba não é fácil conquistar, tem que ir no local, passar a idéia. Mas daqui pra frente, se continuar, tem que haver um trabalho de divulgação maior, procurar as pessoas in loco", acredita o compositor. É pagar pra ver a segunda edição.

Débora Costa e Silva
2/7/2007 às 23h08

 

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