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Quinta-feira, 5/7/2007
A Flip como Ela é... I
Julio Daio Borges

Chegamos atrasados, só pra manter a tradição. Várias polêmicas me segurando em São Paulo (basicamente a discussão sobre publicar em papel ou não, agora misturada com a matéria do Estadão). Mas eu consegui me libertar, me reunir com o Rafa Rodrigues, ir para a casa dos pais da Carol e embarcar pra Parati. A viagem foi tranqüila. Apesar da Marginal Pinheiros. Alcançamos Parati em cima da hora para o show da Orquestra Imperial (já estava rolando a fala da Bárbara Heliodora, não checo a grafia de nada hoje, OK?). A pousada do Rafa se escondeu de nós o quanto pôde, desistimos de procurar e seguimos direto pra Orquestra na Praça.

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O Amarante estava cantando um daqueles clássicos do samba, com o mesmo paletó branco do último show do Los Hermanos (sobre o qual estou devendo uma Nota, aliás...). Uma fala bem enrolada, a Carol não reconheceu a princípio e teimou comigo (que não era ele). Era; mas achei o Amarante meio triste e "perdido" no palco, sem a guitarra, sem a bateria, enfim, sem a sua banda. Talvez tenha sido só impressão minha. No back stage, depois, ele estava sorridente e perguntou como foi a "palestra" em forma de música (afinal, estamos na Flip e, não, no Palace - os músicos todos insistem em falar "Palace", não adianta...). No palco, ele vinha pra frente, cantava, ia pra trás, pegava um instrumento, pegava outro, dançava, mas, a meu ver, não se "achava".

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Tenda da Matriz lotada, pelo menos, cheia de curiosos, que foram "saindo fora" ao perceber que a Orquestra era meio experimental. A Carol identificou o Kassin e o Domenico de longe mais rápido do que eu; o primeiro sempre ao baixo, em forma de Gibson Les Paul, e o segundo à bateria, sem cantar desta vez. Tocaram, basicamente, o EP inteiro da Orquestra Imperial, sem a música instrumental inteira ("Pop Corn"?, chamei o selo, Ping Pong, de Pop Corn, e o Amarante, depois, me corrigiu rindo da confusão...). A Orquestra Imperial é grande, o Kassin ou o Domenico nos disse que são, só de músicos, 19 (dezenove) pessoas. Duas vocalistas, uma bem branca e magra (desculpe, não guardei os nomes) e uma bem morena e provocante, fazendo o papel de "musas".

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O João Donato entrou com um boné cor-de-rosa e eu não esperava nada dele, ouvi dizer que anda completamente "xarope", mas parece que ontem não estava, não. Tocaram, dele, "Maçã" (não sei se esqueco do artigo aqui), "A Bruxa de Mentira..." (parceria com o Gil, que conta a história da música no seu Acústico) e "Suco de Maracujá" (será que é isso, o título? Parceria com Martinho da Vila, com dois Ls?, bem divertida...). Então, João Donato, meio enrolando a língua também, anuncia que quer tocar "aquela", com seu parceiro... Kassin. "Cadê o meu parceiro? Cadê o Kassin?". Aí, entoam "Quem bom voltar..." etc., do disco Futurismo, com Kassin aos vocais. A Carol vibrou. (O CD não sai da nossa vitrola...)

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Ainda teve, antes do bis, "Eu quero um samba feito só pra mim...", clássica na voz do João Gilberto; "Bananeira", hit dos anos 2000, na voz da filha do João, Bebel Gilberto; e, no meio de uma gozação (que, na Orquestra, a gente nunca sabe se é séria), "Nasci para bailar...". E eu fiquei pensando que o Donato estava lá, meio viajando nos teclados, mas dividindo o palco com aquela moçada toda, por volta dos 30 anos, depois de ter "emparelhado" com o Tom Jobim, quase antes da bossa nova, depois de ter pirado na eletrônica dos anos 70, depois de tudo. Mal comparando, era como se o João Gilberto resolvesse tocar com o filho do Caetano, o Moreno, que, aliás, é da Orquestra Imperial, e que zanzava ontem pelo palco também.

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Eu falei isso para o Domenico, quando, inacreditavelmente, ele dividia um "pasteloni" (ou "pastelloni"?) comigo, com a Carol e com o Rafa, à beira do rio. E ele concordou. Disse que "só no Brasil acontece essas coisas". Gerações de músicos se misturando, gerações de artistas... Contou de um amigo português, igualmente artista plástico (o Domenico, além da baterista, pinta), que não acreditou quando entrou no ateliê do Luiz Zerbini (estou chutando totalmente a grafia aqui...). Disse, ao Domenico, que isso jamais acontecia em Portugal, entre artistas, e que ele nunca havia entrado no ateliê de outra pessoa, ainda mais de outra geração... (O Domenico ficou rindo ainda porque o Wilson das Neves avisou que o Donato nunca toca o combinado no ensaio, e, ontem, aconteceu de novo: Donato improvisou.)

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Lembro pouco do set list do bis. Escancararam enfim a Tenda da Matriz, eu, a Carol e o Rafa entramos, e ficamos, à beira do palco, apreciando a Orquestra Imperial. Formalmente, o show já havia acabado; só sobraram, na platéia, os que realmente apreciaram a coisa. Eu me apoiei no palco e fiquei embaixo do pessoal dos sopros. Tirei algumas fotos. A Carol tirou várias do Amarante... Então o show acabou. Eles desceram do palco e eu percebi uma oportunidade de abordá-los, enquanto a Carol e o Rafa ficaram meio sem ação, titubeando. O "segurança" vacilou e eu puxei eles pro back stage. Queriam uma foto com o Amarante. Em Parati, é mais fácil falar com as pessoas. Então abordamos nossos heróis logo depois do show...

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O Amarante estava meio tonto, quando eu pedi uma foto. Puxei ele pelo paletó branco, mas ele topou. Saímos eu e a Carol, o Rafa disparou o gatilho. (Depois vocês vêem, ficou boa...) Em seguida, o Rafa e ele. O Amarante abrindo os braços, o Rafa com um sorriso de orelha a orelha. Ficou boa também. Os dois são fotogênicos. (Depois, vocês igualmente vêem...) O Amarante nos contou que a Orquestra Imperial toca, no meio de agosto, no antigo Palace, mas ele não sabia precisar a data. Não ficamos perguntando muito sobre o fim do Los Hermanos; respeitamos o luto dele, embora ele estivesse de branco... Não, ele não se lembrava do nosso encontro, em 2005 (achava que tinha sido em 2004), no restaurante Celeiro, no Rio. Disse, ainda, que não tinha maiores projetos (fora a Orquestra).

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Não, eu não perguntei porque eles "nunca" tocam "Ana Júlia" (não sei se falta um "n" aqui ou se tem acento no "u"...). Até porque eles tocaram, no último show... A Carol estava animada e quis tirar foto, também, com o Kassin. O Kassin até abaixou para tirar foto conosco, porque ele é grandão. E muito, muito acessível. Fiquei impressionado. E humilde. Eu disse a ele que concordava - com o Alexandre Matias - que Futurismo era provavelmente o melhor disco de música brasileira do ano passado (ano passado, porque saiu, em 2006 - primeiro no Japão). Disse, ainda, que quem me falava muito dele, com muito carinho, era o Guilherme Werneck. "Pô, você.. Só nas altas esferas... Alexandre Matias, Guilherme Werneck..." Como se ele - Kassin - não fosse a quintessência da música brasileira contemporânea. Disse que vai me avisar dos próximos shows "fora do circuito".

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A noite já teria sido inesquecível, com o Kassin contando a história da música "Nara" (sobre sua filha), e o Amarante dando detalhes do álbum da Orquestra Imperial, mas paramos na frente do Pasteloni, pra tomar um ar, quando resolvemos encarar um pastel, já na madrugada, sem jantar direito, e lá estava o Domenico. A Carol, animadíssima, queria falar com ele. Fomos. O Domenico se empolgou tanto, quando eu lembrei de "Olhos de Tigre" ("Eye of the Tiger", na versão em português com Moreno e Kassin), que veio até sentar na nossa mesa. E foi a melhor conversa da noite; como se não bastasse(m) as outras duas... Contou da escola "muito louca", onde conheceu Moreno e Kassin, contou da vida de músico, contou da filha. Parecia, de repente, um brother nosso, dividindo as agruras da vida. E a Carol terminou a noite espantada com a simplicidade deles. E o Rafa dormiu boquiaberto. Era apenas o primeiro dia da Flip...

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Hoje, a primeira mesa foi meio decepcionante (depois de tudo isso). A Cecilia Giannetti - minha entrevistada na matéria do Estadão - estava muito, muito nervosa e reclamou, de leve, por ser confundida com a "geração internet" (mas eu a conheci na internet; e você?). Em seguida, leu algo do seu livro novo, que nós, no "Link", demos em primeiríssima mão (o Matias não acreditou quando encontrei a capa no site da Cultura...). Algo sobre "porcos de silício", mas ela cai naquele conto de apelar para a violência reinante, "ficcionalizando-a", numa esperança de "conscientização" - o que eu acho sem efeito nenhum, porque, simplesmente, não é a vida dela, Cecilia Giannetti. Eu preferiria, por exemplo, ler histórias sobre a sua banda de rock (no livro). De Berlim, ela basicamente reclamou, não endeusou o projeto Amores Expressos.

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O Fabrício Corsaletti fez o gênero "bicho grilo" e protestou quando a Beatriz Resende (nunca sei se é com "z"), mediadora elegantíssima, chamou ele de "erudito". Depois desse corte, a Beatriz praticamente não falou mais nada (ah, o Cassiano Elek Machado, diretor de programação da Flip 2007, anunciou que ela prepara um livro sobre todos esses autores, denominado, muito apropriadamente, de Contemporâneos - que me soou, pelo que ela adiantou, meio elogioso demais; eu sou chato, eu sei, podem falar...). O Fabrício ainda teve o dom de esquecer uma pergunta que havia sido feita a ele, quando a Cecilia embarcou num monólogo sobre Berlim. Aí, eu lembrei do Rafa ontem, no carro, contando que o João Filho - um dos heróis de outras edições da Flip - simplesmente "esqueceu" de uma mesa numa bienal na Bahia. (Depois essa geração reclama de "falta de reconhecimento"...)

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Eu pensei que a salvação da lavoura seria a amiga do nosso Guilherme Conte, a Veronica Stigger, mas ela foi igualmente uma decepção. Veio vestida para o "SP Fashion Week" e com um cabelo... eu fiquei pensando se ela não errou, seriamente, de profissão (depois, colo uma foto dela aqui...). Alta, magra, cheia de looks. E uma voz de Iris Letieri (dessa, não sei a grafia mesmo), a moça que anunciava, antigamente, os vôos no aeroporto. O Mike Paton, do Faith No More - eu sei que a referência, aqui, não é nada erudita - se apaixonou pelos seus anúncios e quis se casar com ela, quando veio para o segundo Rock in Rio. Voltando pra literatura, a Veronica leu uma bobagem sobre uma tal de Domitila, que se mutilava - um conto que dava as horas, que era cheio de clichês da música popular (Roberto Carlos) e do cinema (até Máquina Mortífera, do Mel Gibson...). Gente do céu, isso não é literatura!

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Agora está rolando Augusto Boal e Eduardo Tolentino e eu tenho de acabar este Post porque ele está longo. A Carol e a Marília viram o Lobão e o Chacal, eu perdi, tentando ver meus e-mails, conversar com a Débora e tentando escrever... Não consegui fazer tudo isso, óbvio. Vou ao Jim Dodge, o da Fup - resolvi - e ao Will Self, aquele do livro com cara de macaco na capa (eu sei que pega mal eu soar tão mal informado aqui, mas, agora, ou escrevo ou checo as informações... O que vocês preferem?). Mais à noite, Kiran Desai, cujo livro parece muito bom, e William Boyd (segundo a programação; sobre quem eu sei pouco...). Ah, e o Nélson está em todo lugar. Amanhã vou perguntar, ao Ruy Castro, o que ele acha dessa popularização súbita. Parece que o Jabor furou; encontraram outra cueca cheia de dólares, de algum parlamentar, e ele não quer perder esse comentário na CBN e no Jornal Nacional por nada neste mundo...

Julio Daio Borges
5/7/2007 às 16h08

 

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