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Quinta-feira, 12/7/2007
Dia do Rock em São Paulo
Tatiana Cavalcanti

O dia do rock está chegando, 13 de julho, e a cidade de São Paulo irá receber diversas atrações musicais e exposições sobre o ritmo "cinquentão" que veio para ficar. Roqueiros de todas as partes costumam se reunir nessa data para reverenciar seus maiores ídolos. É indiscutível a importância do rock'n'roll não somente na música, mas também na sociedade moderna. Símbolo de rebeldia para os jovens, o rock já passou por diversas fases durante os seus 50 anos de história.

Para celebrar o Dia Mundial do Rock, o Centro Cultural São Paulo (CCSP) programou uma série de 13 shows ao longo do mês de julho, é o "Sintonia do Rock". Entre as atrações, um encontro de vertentes e sonoridades do gênero, como os veteranos Garotos Podres e Inocentes, que se apresentam ao lado de destaques da cena alternativa, como Ludov e Wander Wildner.

Para abrir as celebrações a todo vapor, o ex-vocalista da mais antiga banda de rock nacional, o Made in Brazil, Percy Weiss, conhecido como "lenda do rock", fez sua apresentação no primeiro domingo do mês, ao lado de sua atual banda.

"Nenhuma definição melhor para o gênero do que a música 'Minha vida é o rock'n'roll', da histórica Made in Brazil", comenta Paulão de Carvalho, vocalista da maior banda independente do país, Velhas Virgens, que já vendeu mais de 150 mil discos em pouco mais de 20 anos de carreira e encerram o evento. O show está previsto para começar às 18h, e a banda apresentará faixas do novo álbum, Cubanajarra.

Ainda no Brasil, o filme de animação Wood & Stock: Sexo, Orégano e RockīnīRoll retrata o cotidiano de dois amigos, personagens-título, que, cansados de ver um mundo cada vez mais individualista, decidem retomar a velha banda de rock, com a voz de Rita Lee.

O MIS (Museu da Imagem e do Som) completa a festa ao receber a primeira exposição em São Paulo do Arquivo do Rock Brasileiro. É um projeto que resgata as origens do rock brazuca, enfatizando o período de formação, de 1955 a 1979, com gravações digitalizadas que podem ser acessadas através de computadores. As capas de discos, filmes, livros e revistas de época, gravados em vinil e raríssimos, peças e objetos de colecionadores, cartazes e fotografias também podem ser vistos ali.

A vida de muitas pessoas é o rockīnīroll desde seu nascimento, por volta do início dos anos 1950. A data de origem exata do nascimento do rock é incerta. Mas eis que um DJ (disk jockey) norte-americano, Alan Freed, começou a tocar em seu programa de rádio em Nova Iorque, no início daquela década, um ritmo que era uma mistura de blues e country (rhythm and blues) que já eram bem populares.

Numa época de segregação racial, numa sociedade dividida e cheia de preconceitos, o locutor ousou ao apresentar ao seu público músicas de cantores negros e brancos, sem distinção. Para aquele ritmo envolvente que nascia dessa mistura, ele usou pela primeira vez, em 1951, o termo rock and roll, que antes era utilizado para referir-se ao ato sexual em letras de música. Foi quando as pedras começaram a rolar!

Alan Freed morreu em 1965, auge do ritmo que ele batizou, na miséria. Entretanto teve um importante papel por atrair jovens brancos para a música feita em grande escala pelos negros, lançando nomes em seu programa de rádio e, posteriormente, com a promoção de shows ao vivo. Estes shows chamados "RockīnīRoll Jamboree", foram os primeiros a reunir num mesmo auditório platéias misturadas de jovens negros e brancos, assim como no palco, onde o que interessava era a música, e não a cor dos artistas apresentados. Esse pioneirismo custaria, no longo prazo, a vida de Freed, sempre perseguido.

O rockīnīroll sempre teve um apelo social e costuma tocar em assuntos polêmicos, seja de religião à política. No início da década de 1950, um belo e jovem rapaz chocou a sociedade norte-americana com uma voz potente e seu rebolado sensual e provocante. Ele era branco, mas cantava tão bem, que muitos tinham certeza de se tratar de um cantor negro.

As primeiras aparições de Elvis Presley na televisão foram um escândalo para o conservadorismo norte-americano da época. Ele dançava de um jeito nunca visto na TV antes. Rebolava e balançava as pernas, mexendo com a libido das fãs que se descabelavam de tanto gritar (e, francamente, mexe com as libidos até hoje). Foi considerado indecente e foi censurado. Nas aparições seguintes ele só foi filmado da cintura para cima.

O início da década de 1960 foi marcado por uma banda inglesa que revolucionou o cenário musical e universalizou o rockīnīroll. Os Beatles, formados por John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Star, enlouqueceram as adolescentes da época com seus trajes certinhos, ternos limpos e cabelos "tigelinha". Suas músicas ainda eram inocentes e eles eram considerados "bons moços". Seus shows tinham tantos gritos que os músicos não podiam ouvir ao próprio som que faziam.

Em contrapartida à Beatlemania, surgiu logo em seguida outra banda inglesa, em que os integrantes eram considerados feios, sujos e descabelados. Os Rolling Stones invadiram o mundo com sua música debochada e ousada. Eram considerados os bad boys do rockīnīroll, e, numa jogada de marketing, uma pergunta foi lançada à época, através da mídia, aos pais conservadores: "Você deixaria sua filha casar-se com um Stone?". Obviamente que a resposta era negativa. Os Rolling Stones eram provocantes e tinham, e ainda têm, como maior influência o blues. Eles criaram uma escola própria do rockīnīroll e foram ícones do seu tempo.

Outras bandas e cantores importantes surgiram na mesma época, como os americanos Beach Boys, The Byrds e o pianista Jerry Lee Lewis, mas nenhum fenômeno se comparou à invasão britânica, que trouxe ao mundo bandas como Deep Purple, Led Zeppelin, Pink Floyd, The Who, entre tantas outras.

Aqui no Brasil, quem dominava o cenário do rock eram Os Mutantes, que mesmo com influência Tropicalista, jamais deixaram a essência do rockīnīroll de lado. Eram uma banda de experimentalistas e daí a dificuldade da maior parte dos críticos em classificá-los dentro de qualquer estilo que seja. A primeira banda nacional a adotar a escola dos Stones foi o Made in Brazil, que tinha sons crus e básicos, assim como o verdadeiro rockīnīroll. Letras que falavam essencialmente do que os jovens queriam ouvir naquele momento: sexo, rock e muita diversão.

Não há como contar aqui toda a história desse ritmo que é considerado um estilo de vida, mas ele lançou no cenário nacional e mundial os maiores formadores de opinião de todas as gerações de jovens, desde a década de 1950 até os dias atuais. O rockīnīroll tem se mantido fiel a duas das suas maiores verdades: contestação e diversão, que são características essenciais na formação de um cidadão mais crítico e "antenado" com o seu tempo. O Dia Mundial do Rock será a celebração de todos esses aspectos aqui relatados. Que ele sirva ao menos para conscientizar e mover as gerações presentes e futuras.

E não podemos nos esquecer de uma coisa: é só rockīnīroll, mas a gente gosta!

Para ir além
A maratona de shows segue até o dia 29, e serão realizados às sextas-feiras e sábados de julho, às 19h, e aos domingos, às 18h. O preço dos ingressos varia entre 10 e 15 reais. A programação completa da maratona de rock no Centro Cultural pode ser conferida aqui.

A exposição Rock Brasileiro fica em cartaz no MIS até 5 de agosto, de terça-feira a domingo, das 10h às 18h, na Av. Europa, nš 158. Ingressos a R$ 3,00 e gratuito aos sábados.

[Colaborou Mario J. Silva]

Tatiana Cavalcanti
12/7/2007 às 09h50

 

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