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Sexta-feira, 13/7/2007
Como é viver nos EUA
André Pires

Através do Digestivo Cultural, site com o qual colaborei em seus primórdios - e se não o faço mais é pela falta de tempo -, me chegou às mãos a oportunidade de resenhar o livro Como é viver nos Estados Unidos? (Gazeta, 2007, 111 págs.), da Aline Tonini. Faço parte da turma que recebe a newsletter, vejam que chique, do hoje cultuado (merecidamente) sítio. E mais ainda, volta e meia recebo e-mails pessoais endereçados a um seleto grupo pelo nosso editor Julio Daio Borges.

Conversava eu com um amigo sobre inconsciente coletivo, Jung, e outras teorias que explicam o fato de sistemas se desenvolverem simultaneamente em pontos diferentes do globo, o que está diretamente relacionado àqueles episódios em que você sonha com um amigo que não vê há muito tempo e no dia seguinte esbarra com o mesmo na rua. Fato é que este amigo está de partida para os states, vai morar lá com a namorada, que virou esposa, o que lhe garante o famoso green card: o bilhete premiado dos imigrantes em potencial.

Pois quando cheguei em casa, após o papo sobre inconsciente coletivo, com um grande amigo que está de viagem marcada para a terra de Tio Sam, que mensagem vejo piscando em meu endereço eletrônico com o remetente do Digestivo? Resposta: "Alguém quer resenhar o livro Como é viver nos EUA? ?". Creepy stuff! Como diria a autora, mais familiarizada com a língua inglesa após alguns meses vivendo na gelada Boston com seu companheiro. Parecia um aviso, né? Me senti na obrigação de encarar a missão.

Entrei em contato com a simpática autora e menos de uma semana depois o livro estava em minhas mãos. Posso dizer que pouco conhecia da autora a não ser pelos breves e-mails que trocamos combinando a remessa de sua obra. Mas sou daqueles que acreditam que a forma como alguém redige um curto e-mail pode dizer muito sobre sua pessoa. Seja pela formalidade, pelo português correto, pelas abreviações de internauta-teen ("v6 naum konhecem???") ou até pela saudação de despedida ("Saudações", "Atenciosamente", "Abs", "Bjs"). E acredito piamente, embora minha teoria ainda não seja cientificamente comprovada, que a forma de escrever de e-mails da Aline tem muito a ver com o produto final de seu livro.

Como é viver nos Estados Unidos? é o que o próprio título diz. Direto e sem floreios. Quase que um guia prático direcionado àqueles interessados em arriscar a vida no país do Bush. E o texto de Aline lembra muito seus e-mails. Mais do que isso, passam a sensação de que estamos acompanhando a viagem e as descobertas da autora.

Sabe aquela prima que viaja para um intercâmbio e semanalmente manda aquelas missivas narrando suas aventuras e percalços aos familiares? Pois lendo o livro você se sente primo da Aline. Mesmo em um livro estruturado e concebido para servir como uma espécie de Manual Didático a autora deixa transcrever uma certa leveza que percebi na redação de seus e-mails.

Diferente de um Crônicas de um país bem grande, onde Bill Bryson narra o reencontro com sua terra natal, os EUA, na forma de análises divertidas e críticas sociais espirituosas, o livro de Aline Tonini tem um tom mais educativo do que jornalístico.

A autora abrange toda e qualquer situação que um imigrante brasileiro nos Estados Unidos possa se deparar de uma forma cuidadosamente clara e explicativa, propositalmente básica. Das leis de trânsito ao supermercado. Da suprema corte (tomara que os leitores interessados não precisem fazer uso dessas informações) a como retirar neve da entrada da garagem. Nada escapa ao olhar observador de Aline e tudo é transformado em ensinamento e explicado ao leitor de uma forma simpática. Como aquela professora gente boa que tivemos no ginásio.

Feito com muito cuidado, o livro raramente deixa entrever um posicionamento crítico ou opiniões pessoais e passionais em questões mais profundas. Mesmo assim, não deixa de ter um toque pessoal quando Aline exemplifica a teoria com experiências próprias vividas por ela e seu noivo em sua jornada de imigração. Com estes ingredientes, a leitura é fácil e gostosa.

Apesar de ter um público bastante específico, o livro agrada quem tiver uma mínima curiosidade sobre a vida de uma imensa parcela de nossos conterrâneos. E, sendo um tratado completo sobre a vida do brasileiro na "América", pode fazer de Aline uma referência entre a comunidade brazuca lá fora.

Mérito dela, que fez um Manual com leveza ou, se preferir, transformou uma história pessoal em guia de muita utilidade. Uma combinação difícil, mas que a autora leva com tranqüilidade, como quem redige um e-mail para um primo distante.

Para ir além
Brasileiros nos EUA

André Pires
13/7/2007 às 13h45

 

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