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Quinta-feira, 19/7/2007
Contos cinematográficos
Vicente Escudero

O maior conteúdo, dentro do menor quadro. Contos Indianos (Hedra, 2006, 112 págs.), do poeta francês Stéphane Mallarmé, traduzido por Dorothée de Bruchard e relançado em edição caprichada, de bolso, pela Editora Hedra, traz de volta uma prosa completa de ilustrações de um oriente místico e fundamental.

São quatro contos rescritos e adaptados - não apenas traduzidos - a partir da coletânea de histórias Contes et légendes de l'Indie ancienne, de 1878, organizada por Mary Summer, a partir de textos antigos e tradicionais da Índia. "O retrato encantado", "A falsa velha", "O morto vivo" e "Nala e Damayanti" revelam a moda oriental que varreu o século XIX e influenciou, dentre outros, Oscar Wilde e sua poesia dramática, e Arthur Schopenhauer, com sua arte como fuga da vontade e supremacia da inteligência. Os detalhes explodem como fogos de artifício em cada parágrafo: "Upahara distingue numa poeira de estrelas, prestes a revesti-la com deslumbrantes sandálias, a nudez de um passo." (trecho de "O retrato encantado").

Adverte-se aos curiosos que, em tempos de cinema espalhafatoso e melodramático, esta pequena obra de Mallarmé pode representar um contraponto à eleição do roteiro de cinema como gênero literário, pelo menos no contexto do mexicano Guillermo Arriaga, roteirista de Babel, que afirma entregar os roteiros ainda sem o final, já que sua escrita pode tomar diversos rumos durante a criação. Não para Mallarmé, autor desta pequena grande obra em que a linguagem prevalece sobre o destino (por ser rescrito?), ao contrário de Arriaga, em que a vontade prevalece sobre a forma (ou sobre a inteligência?). Vale conferir.

Vicente Escudero
19/7/2007 às 16h20

 

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