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Sexta-feira, 20/7/2007
Maniqueísmo
Daniel Bushatsky

Dois anos, duas Flips (com a minha participação) e muita decepção, para não falar tristeza, com parte da platéia desta feliz e sempre surpreendente festa literária.

Poxa vida, observei, tanto em 2006 quanto em 2007, o respeitável público vaiar autores pelo seu posicionamento político ou econômico. Isto é muito feio!

Uma das "tomatadas" aconteceu na mesa composta por Robert Fisk e Lawrence Wright, quando o primeiro ofendeu o segundo, ao asseverar que a questão postulada era idiota e, ainda, cutucou: "só podia vir de um americano".

Ato contínuo, a platéia apoiou Fisk e o resultado: vaias para Wright.

Assim foi que, imediatamente, me lembrei da mesa composta por Christopher Hitchens e Fernando Gabeira, na Flip de 2006, onde o mesmo aconteceu. Gabeira, como Fisk, achou que estava em um duelo. Conseqüência: tentou humilhar Hitchens. Pior, o respeitável público chancelou! Resultado: "ovos" em Hitchens.

Repito, nada pode ser mais feio do que ver pessoas esclarecidas, a maioria, acredito eu, jornalistas ou representantes da filosofia humanista, apoiarem tudo o que é contra os EUA, o maior vilão da história.

Por exemplo, Fisk, o adorador de carnificina (quem estava lá reparou na carga dramática que ele imprimiu na leitura de seu livro onde descreveu cenas horríveis de guerra), infantilizou a questão de Wright, demonstrando não só imaturidade frente à questões propostas, bem como deixou escapar com seu "pseudo-brilhantismo" o verdadeiro cerne da questão: discutir a cultura anti-americana e os motivos de uma guerra invisível.

Odiar todos os americanos não é meio maniqueísta? Por acaso todos os americanos assinaram uma "declaração" de quererem destruir o mundo, em especial o Brasil?

Será que não há uma pontada de ciúmes against EUA? Sei lá, pode ser sonho meu, mas será que não gostaríamos de ser os EUA?

Pois bem, a mim parece que o respeitável público repete a postura da juventude dos anos 60, esperneando chavões sem a menor contextualização fática, como a que o FMI é o único culpado pela crise brasileira (e não os nossos próprios governantes e o povo, por que não?) e que todo americano é burro e egoísta!

Vamos cair na real?

Desta forma, restam duas reflexões ao respeitável público, a primeira nas palavras de Sören Kierkegaard, "a inveja é admiração sem esperança" ou vaiar ratificando pensamentos tão antigos e retrógrados são a escusa intelectual de hoje em dia?

Daniel Bushatsky
20/7/2007 às 18h40

 

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