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Quinta-feira, 16/8/2007
Os movimentos da alma
Lisandro Gaertner

Tive um professor de filosofia que odiava a arte moderna. Segundo ele, o "mudernismo" atacava a essência da arte, que era a cópia e o controle. Controle? Sim, o controle. O controle das multidões. Segundo ele, com a devida verossimilhança, proporcionada pela qualidade da "cópia", uma obra de arte poderia garantir o prestígio ou a difamação de reis, levantar exércitos, acalentar os povos nos tempos de paz ou até nos fazer amar. Ouvindo ele, parecia que a arte era quase uma panacea.

Não sei se concordo, afinal não dava pra confiar muito num cara que chorava toda vez que falava de Agamenon, mas uma coisa que eu gostava era quando ele explicava o que a dança copia. "A dança" ele dizia "copia os movimentos da alma". Ontem fui botar a sua teoria a prova no Theatro Municipal, checando se o Grupo Corpo estava "copiando bem os" tais "movimentos da alma".

São dois espetáculos em um. O primeiro, Sete ou oito peças para um ballet, é bem conceitual. Marcado pela música minimalista de Philip Glass, o Corpo trabalha em cima de pequenas rotinas e repetições quebradas por distorções no movimento que se tornam novas rotinas e seguem ad infinitum. Meu professor odiaria. Eu adorei. Na segunda parte, tivemos Breu. A música agora era de Lenine, o que proporcionou um espetáculo grandioso. A peça requisita toda a habilidade dos bailarinos, porém joga às favas a coesão conceitual. Nesse caso, eu concordaria com o meu professor, a "mudernice" prejudicou o resultado. Talvez seja só implicância minha com o Lenine, que, durante um tempo, bem ruim, da minha vida, me atazanou com seu hit "Hoje eu quero sair sóóóóóóóó...", mas achei que a sua salada musical foi demais para o meu "mudernômetro".

Lembrando, a temporada só vai até 18 de agosto, por isso corra. Não é sempre que a gente pode ver uns movimentos da alma tão bem executados. Quanto a música do Lenine, faça como eu: releve. Ah, só não esqueça de deixar ele sair. Como? Você já sabe: só.

Para ir além
Grupo Corpo

Lisandro Gaertner
16/8/2007 às 11h59

 

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