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Sexta-feira, 31/8/2007
Bate-papo com Gilberto Franco
Julio Daio Borges

1. Por que o leitor brasileiro deve ler Nelson Mandela: Uma lição de vida, de Jack Lang?

Para conhecer um pouco mais sobre esse grande personagem que é Nelson Mandela. Embora já se tenha publicado muito sobre ele, sempre haverá alguma coisa a ser tornada pública... - e é essa soma de informações que nos leva a compreender e a entender sua luta obstinada contra a discriminação racial na África do Sul.

2. Como é publicar, no Brasil, um Ministro da Cultura da Franca (Jack Lang), sobre um Nobel da Paz (Mandela), prefaciado por Nadine Gordimer, que é, por sua vez, Prêmio Nobel de Literatura? Foi difícil? (Como você fez para se antecipar em relação ao resto do mercado editorial?)

Havia uma responsabilidade muito grande e uma preocupação, maior ainda - em fazer uma edição à altura dos personagens envolvidos, desde a tradução até a concepção gráfica da obra. Para isso nos cercamos de profissionais experientes e capacitados, como Rúbia Prates Goldoni, que traduziu, e Sérgio Molina, que fez a coordenação editorial. E agora, com o livro saindo do forno, me sinto recompensado pelo bom trabalho que todos fizemos juntos...

Na compra dos direitos, acredito que tive um pouco de sorte, sim. O livro havia sido lançado na França, e logo em seguida em Portugal, e foi a edição portuguesa que chegou às minhas mãos. Após a leitura, fiquei maravilhado e me perguntei: "Será que este tesouro está livre para o Brasil?". Para a sorte da Mundo Editorial, estava. Quer dizer, havia uma outra editora interessada, mas o meu lance foi o melhor, e acabamos ficando com os direitos. Então, não acredito que me adiantei assim tanto ao mercado... Acho que, com tantos títulos hoje à disposição, sobram bons livros e bons autores para serem publicados por pequenas editoras como a nossa.

3. Aliás, o que você acha que diferencia a Mundo Editorial das outras editoras?

Sinceramente não saberia precisar o que nos diferencia... Talvez por sermos de pequeno porte, sobre mais agilidade em todos as etapas que envolvem a publicação de um livro...

4. Pelo seu catálogo, a gente percebe uma grande afinidade com autores hispânicos e até com histórias da Espanha (como da Guerra Civil Espanhola, em Ana-Não) - de onde veio essa ligação? Qual a sua relação, como editor, com esse mundo?

Sou descendente de espanhóis, e isso, decididamente, me influenciou na escolha dos títulos a serem publicados. Mas, veja: quando decidi abrir a editora eu já tinha em mente reeditar Ana-Não. Eu havia lido esse livro em 1983, e havia me apaixonado pela personagem, Ana Paúcha. Agustín Gómez-Arcos, embora fosse espanhol, escreveu todas as suas obras em francês, e foi publicado pela Stock (editora francesa). Posso afirmar que temos bons relacionamentos com editoras francesas, bem como com as espanholas - que sempre nos trataram muitíssimo bem, não levando em conta, por exemplo, o fato de a Mundo Editorial ter um catálogo ainda pequeno: o que conta é fazer uma boa tradução dos livros. E estamos, também, negociando com autores de outros países...

5. A propósito, conte um pouco como você veio parar no tal negócio do livro...

Tudo começou com o livro de Gómez-Arcos, Ana-Não, e a paixão pela leitura. Um sonho antigo que, aos poucos, foi tomando forma - até que, em 2005, eu o realizei, para em 2006 publicar nossos primeiros livros: Ana-Não e O lado frio do travesseiro, de Belén Gopegui (considerada uma das mais brilhantes escritoras espanholas da nova geração).

6. Na sua opinião, quais as maiores dificuldades e as maiores recompensas de ser editor no Brasil?

A distribuição e a exposição nas livrarias são, no meu ponto de vista, os grandes obstáculos, principalmente para editoras novas e pequenas. Não quero com isso dizer que as livrarias são as hoje as "vilãs" da história... O que acontece é que há um numero muito grande de títulos hoje no mercado, e, ao mesmo tempo, há que se obter lucro para sobreviver... Como conseqüência, os melhores espaços são destinados àqueles títulos que têm retorno quase certo ou garantido. Faz parte do jogo: e nós temos de ir nos adaptando, encontrando, talvez, novos caminhos...

7. Por enquanto, vocês têm se concentrado em traduções, mas quais são os novos projetos (anunciados em seu site, envolvendo autores brasileiros)?

Uma das formas de uma nova editora entrar no mercado, e ganhar alguma visibilidade, é justamente lançando autores estrangeiros, que já foram editados (e testados) em outros paises.

Bancar um autor nacional, inédito, é louvável e necessário, mas há que se investir muito para divulgá-lo e torná-lo conhecido na mídia literária brasileira...

Para o inicio de 2008, temos programados já dois lançamentos de autores brasileiros, inéditos...

8. Como você vê o atual momento da literatura, do mercado editorial e da própria leitura no Brasil? A gente ouve opiniões desencontradas, otimistas e pessimistas - mas eu queria saber a sua (afinal já atua no setor desde 2005...).

Eu sinto que o mercado editorial tende a crescer ainda muito. Grandes editoras estrangeiras têm se instalado aqui, então não há porque também não acreditar que o futuro é bastante promissor para todos.

Há, no entanto, uma coisa que eu acho que em nada contribui para o crescimento do número de leitores no Brasil: a critica apenas depreciativa a autores e leitores de livros ditos de "baixa literatura", ou simplesmente comerciais.

Não acredito, por exemplo, que um adolescente adquira o hábito da leitura lendo Machado de Assis, José de Alencar ou qualquer outro grande mestre da literatura brasileira. Assim como em tantas outras coisas, há um longo aprendizado "para se pegar o gosto".

O importante é ler e não importa o quê: histórias em quadrinhos, livros de bolso, de bangue-bangue, edições baratas que se vende em bancas... Fatalmente esse leitor sentirá, mais dia menos dia, necessidade de uma literatura mais rebuscada, digamos, mais aprofundada, até para encontrar respostas às suas dúvidas, questionamentos etc. - então, aí, vai atingir a dita "alta literatura".

9. E a internet, ajuda ou atrapalha você no seu negócio? Quais as suas expectativas em relação a ela (como participante ativo na cadeia do livro)?

Ajuda, e como ajuda... Graças à internet, nossos livros podem ser vistos em todos os cantos do Brasil. Antes, só o que existia era a crítica "especializada" e o famoso boca-a-boca.

Acredito piamente que a internet pode revolucionar a cultura neste país de tanta carência cultural, e sob todos os aspectos. Basta fazer uma única busca para encontrar, só na nossa área, dezenas de sites especializados em literatura...

10. Para finalizar, como você vê a Mundo Editorial daqui a alguns anos? Quais são os seus projetos/sonhos como editor?

Se tudo correr bem, a Mundo Editorial pretende, a partir de 2008, lançar seis títulos por ano. Para isso estamos nos organizando, e nos adaptando para acompanhar o que acontece no mundo editorial...

Eu tenho um sonho, também para 2008 que é criar um prêmio literário. Falta muito pouco para que isso, efetivamente, se concretize. Já estamos conversando com alguns prováveis parceiros, a fim de oferecer um valor bastante significativo e atrair autores de todas as regiões do Brasil...

Para ir além
Mundo Editorial

Julio Daio Borges
31/8/2007 às 12h27

 

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