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Terça-feira, 4/9/2007
A moça do vidro
Julio Daio Borges

Não consigo compreender o mundo que me cerca. Ele está velado para mim. Não consigo me relacionar com ninguém. Sou tida como esquiva, com pensamentos ingênuos e altruístas. Não gosto de comprar nada, de consumir nada. Vivo em paz com meus livros, e não em paz comigo mesma. Mesmo as palavras companheiras não podem ser tomadas ao pé da letra, pois nesse caso o mundo se transformaria no verdadeiro hospício. Busco a minha redenção e não consigo encontrá-la, em livro ou em meu semelhante. Sinto-me despedaçada. Formada de milhares de pedaços que não conheço, e que procuro ao longo desses meus poucos dias tirar para fora, através da palavra. Consigo compreender que, por não gostar de mim, procuro gostar do meu interlocutor, fazendo tudo, absolutamente tudo, que o agrade. Cada um deles tem uma parte de mim. Cada um deles tem um dos meus defeitos. E é essa a minha devassidão. Ou melhor: a minha divisão. Devassa dividida buscando, no pouco tempo de uma vida, encontrar uma alma gêmea, como um irmão siamês, aquela outra parte do meu ser que foi um dia indistinta e que hoje está inexoravelmente separada.

A Ana, no blog do Djabal, que está cada vez melhor.

Julio Daio Borges
4/9/2007 à 00h27

 

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