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Sexta-feira, 31/8/2007
A canção, por Wisnik
Débora Costa e Silva

A poesia presente nas letras dos grandes clássicos da música popular brasileira, principalmente nas obras da dupla Tom Jobim e Vinicius de Moraes e dos compositores Caetano Veloso e Chico Buarque, foi analisada e exaltada pelo também compositor José Miguel Wisnik na última terça-feira (28/08), numa das aulas do curso de MPB do Espaço da Revista Cult. A discussão sobre se canção pode ser considerada poesia já havia sido abordada nas outras aulas por Luiz Tatit e Carlos Rennó, mas o também professor de literatura brasileira da USP acrescentou ao repertório dos alunos uma análise mais aprofundada do ponto de vista literário de algumas músicas.

"A canção não é só um gênero de entretenimento, é também poesia. E poesia é antes cantada do que escrita, o nome lírico está relacionado a isso mesmo", define. Antes de falar sobre música, Wisnik explicou que as origens da canção estão na poesia provençal, onde se fazia música com uma poesia extremamente complexa. Com a invenção da imprensa e o crescimento de conjuntos musicais instrumentais surgiu a diferenciação do músico e do poeta, por conta da escrita.

No Brasil, mesmo reconhecendo a importância de grandes compositores de samba como Noel Rosa, o professor destacou a relevância da bossa nova para a música brasileira, mais especificamente a parceria de Tom Jobim e Vinicius de Moraes como precursora da canção. Afinal, Vinicius já era um poeta quando buscou em Jobim um parceiro musical para realizar o musical Orfeu da Conceição.

"A bossa nova é a grande virada. Essa parceria simboliza literalmente a combinação de uma letra poética com a música", explica Wisnik. Ele também discorreu sobre o Brasil da década 50 e 60, que se modernizava e buscava uma identidade cultural com a bossa nova. "Ela anunciou a possibilidade de um país moderno que pela primeira vez tinha uma produção cultural, não apenas o país exportador de bananas, que estava sintetizado pela imagem de Carmem Miranda. A arquitetura de Brasília, o futebol, tudo isso mostrou a capacidade de criação e a eficácia dentro do território nacional."

Num momento mais prático da aula, Wisnik levou duas músicas para serem estudadas junto com a classe: "A terceira margem do rio", do Caetano Veloso, e "Bolero Blues", do Chico Buarque. Em ambas as canções, há presença de metáforas que fazem referências a uma outra canção (no caso da do Chico, "Garota de Ipanema") ou a uma obra literária (Grande sertão veredas, de Guimarães Rosa, no caso da do Caetano). De uma forma divertida, Wisnik analisou as letras, dançando e entoando versos, interpretando de fato a poesia inserida na canção.

Para ir além
Espaço Revista Cult

Débora Costa e Silva
31/8/2007 às 13h55

 

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