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Sexta-feira, 14/9/2007
The Hoax
David Donato

Mais uma história absurda, mais uma história real. É difícil acreditar que Clifford Irving realmente tenha existido (e exista ainda, aliás) e tenha enganado centenas de pessoas ao se fazer passar pelo biógrafo autorizado do bilionário excêntrico Howard Hughes, e que, no final das contas, acabou até influenciando na renúncia do presidente Nixon. Claro que o fato de Hughes ser um recluso que não falava à imprensa havia 15 anos ajuda a dar credibilidade ao canastrão Irving, mas como explicar tantos golpes de sorte, tantas felizes coincidências que levam a história adiante é algo que o filme não tenta explicar.

Aliás, o filme do diretor Lasse Hallström não vai muito além do básico feijão com arroz do filme de golpista: um sujeito talentoso, mas sem sorte, tem uma idéia mirabolante, envolve alguns amigos (que acabam se machucando no percurso), se torna obcecado pela própria mentira, tem crises existenciais e busca redenção. Mas este é o roteiro. Como buscar inovação numa história real? Spielberg conseguiu, poucos anos atrás, injetar vida num de seus menores (e mais divertidos) filmes: Prenda-me se for capaz. As duas histórias têm muito em comum: são histórias reais sobre golpistas entre os anos 60 e 70 (trívia-relâmpago: Leonardo DiCaprio, protagonista de Prenda-me se for capaz foi o próprio Howard Hughes em O Aviador). O problema está nas diferenças: Spilberg fez um filme rápido e leve, mas que ainda assim traz o protagonista para muito perto do espectador. É muito fácil gostar de Frank Abagnale Jr. Por outro lado, em The Hoax, nunca nos identificamos muito com Clifford Irving. Ele não parece tão fascinante. Essa falta de empatia não tem tanto a ver com a escolha do elenco (afinal, Richard Gere com nariz postiço ainda é melhor que o astro de Titanic), mas sim com as opções do próprio diretor em como contar a história. Exceção seja feita quando enxergamos o processo mental de como Irving "seleciona" as mentiras que vai contar, mas infelizmente o diretor não leva isso muito adiante. O elenco ainda tem um ótimo Alfred Molina como o amigo e comparsa, num personagem mais cativante que o próprio Irving.

O sueco Lasse Hallström está em Hollywood há bastante tempo. Deixou a terra natal onde fez fama com clipes e um semi-documentário sobre o ABBA para dirigir Johnny Depp e a estréia de Leonardo DiCaprio (ele outra vez!) em What's Eating Gilbert Grape. Fez ainda Chocolate e, mais recentemente, foi indicado ao Oscar por Regras da vida (The Cider House Rules).

O saldo geral do filme é positivo, com boas atuações e uma história que não se perde em si mesma, mas não espere se surpreender muito, principalmente se você já viu Prenda-me se for Capaz e Confissões de uma mente perigosa.

David Donato
14/9/2007 às 16h35

 

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