|
Sexta-feira, 21/9/2007 A contradição de João Gilberto Débora Costa e Silva Ele analisou tudo isso também no último dia 18, em uma das aulas do curso de MPB promovido pelo Espaço da Revista Cult. Dá início a palestra pedindo a todos que o questionem caso tenham alguma dúvida, pois, segundo ele, para explicar um artista que conhece bem a linguagem musical, é preciso explicar muitas coisas específicas de música. "Quero traduzir tudo na linguagem do dia-a-dia". E para facilitar a compreensão, o jornalista levou um violão para que os alunos pudessem ver e ouvir o que João Gilberto faz. A contradição sem conflitos de João Gilberto a que Garcia se refere sintetiza o conceito da cordialidade do brasileiro, tema abordado por Sérgio Buarque de Hollanda em Raízes do Brasil. Para exemplificar essa idéia, ele começou mostrando aos alunos passo a passo (acorde a acorde) a origem da batida da bossa nova. O cantor baiano se inspirou na linha rítmica de dois instrumentos que se destacam nos batuques do samba, o surdo e o tamborim, e adaptou o ritmo à batida do violão. "Ele saiu da batida do samba, criou uma batida nova, mas nas variações que faz ao tocar, se aproximou de novo do samba. Então o que ele faz é samba e não é", conta. Essa é apenas uma das contradições existentes em seu trabalho. No entanto, o jornalista acredita que essa contradição não apresenta conflitos, pois os elementos musicais não entram em choque um com outro. "Há uma linha tênue entre um ritmo e outro. Quando você percebe que ele está saindo da base que criou [com as variações da batida], ele volta à base novamente. É uma contradição que se dá harmoniosamente", conclui. Outro aspecto contraditório do compositor é o momento do show, onde acontece o encontro entre público e ídolo. O fato de ele interpretar as canções num volume muito baixo causa um certo desconforto na platéia. "A cada movimento que as pessoas fazem durante o show interfere no silêncio da platéia e cria aquele pânico: todo mundo fica com medo de atrapalhar e as pessoas têm que ficar totalmente entregues a música dele." Quando o jornalista fala de contradição sem conflitos quer dizer que é uma ação sempre recoberta por uma harmonia, que faz com que tudo aquilo que possa gerar violência seja atenuado. "Tudo é recoberto por uma afetividade", analisa. Na opinião de Garcia, essa sensação de harmonia é superficial, pois no fundo há uma contenção de emoção. No caso de um show de João Gilberto, a contenção da voz, dos movimentos e da manifestação da emoção do público. "A obra dele é lírica e trabalha com emoção, ao mesmo tempo que causa um distanciamento dela", sintetiza. Para ir além Espaço da Revista Cult Débora Costa e Silva |
|
|