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Sexta-feira, 14/12/2007
Curitiba Literária
Julio Daio Borges

Eu me ressinto muito de não ter mais tempo para ler. Gostaria de ter muito mais do que tenho. Às vezes, tenho que puxar o freio, diminuir a velocidade desta vida atribulada e falar: "Não". Gosto de tirar férias. O que mais gosto nas férias é de ter mais tempo para ler. Uma coisa que no meu dia-a-dia é escassa. Pois não há o que substitua a importância da leitura na formação das pessoas. Há quem diga que a gente pensa e pronto. Mas a gente pensa com palavras. Então quanto maior for o seu repertório, a sua experiência como leitor, melhor você vai pensar. Você vai ter mais instrumentos para refletir sobre qualquer outra coisa, seja qual for a sua área de atividade. Não são só os escritores que precisam ler. Qualquer pessoa pode se sair melhor na vida, no mundo, nas relações afetivas, no trabalho, se tiver essa experiência de alguma forma.

Arnaldo Antunes

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Há 22 anos, eu era editor do "Caderno2" do Estadão. E havia um letrista de música que queria ser escritor. Ele publicou um livro que se chamava O diário do vampiro, uma coisa assim. Por uma editorinha dele mesmo. O livro era uma piada. Então, chamei um jornalista que escrevia muito graciosamente, o Jotabê Medeiros, e demos uma página gozando o livro. Mesmo achando que aquilo era uma gozação, o letrista gostou. E me convidou para ir ao apartamento dele, no Rio. Era um apartamento no primeiro andar de um prédio que tinha um jardim nos fundos. Lá, havia uma reunião de amigos. Tinha uma espada encostada na parede. O letrista me serviu um vinho branco. Me mostrou umas fotos que tinha feito em um deserto. E me disse: "Emediato, quero ser escritor. Não agüento mais essa vida de letrista, de produtor cultural. O que é que eu faço?". Olhei para ele e falei: "Sei lá. Persevere". O letrista era o Paulo Coelho. E ele perseverou. Tem gente que acha que ele não é um escritor. Eu acho que ele é. Não o leio. Não gosto daquilo. É chato. Mas era o Paulo Coelho, desesperado: "Quero virar escritor, não agüento mais essa vida". E ele virou. Então, quer ser escritor? Faça como o Paulo Coelho. Só que, de preferência, escrevendo melhor que ele...

Luiz Fernando Emediato

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Tive a sorte de ter um pai que não só era um leitor voraz como também me incentivava a ler coisas que não eram para a minha idade. Quando eu tinha 13, 14 anos, ele me mostrava o Ulisses e falava: "Está vendo aquele livro? Tem uma frase de 50 páginas. Aquele tijolo, lá no alto". Ele sabia o que eu ia fazer: peguei um banco e alcancei o livro. Li o Ulisses inteiro com 14 anos, sem entender absolutamente nada. Mas eu precisava chegar à frase de 50 páginas e saber por que ela existia. Eu não entendi nada. Só fui entender quando eu reli o livro, muito tempo depois. João Gilberto Noll, também. Quando eu tinha uns 15 anos, meu pai disse: "Esse cara aqui você tem que ler". E li A fúria do corpo, que era aquela coisa devastadora. Eu lia aquilo e dizia: "Meu Deus!".(...) E os existencialistas todos: Sartre, Camus, Bataille ― teve uma fase em que fiquei louco por ele... E todos aqueles surrealistas, e os dissidentes do surrealismo. Teve uma fase em que li isso. Hilda Hilst foi uma escritora de que gostei muito. Faulkner... Moby Dick mudou a minha vida.

Daniel Galera

(Todos no evento Curitiba Literária, com curadoria do incansável Rogério Pereira, do Rascunho.)

Julio Daio Borges
14/12/2007 à 00h05

 

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