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Sexta-feira, 21/12/2007
Cultura da hipocrisia
Daniel Bushatsky

Há um ano, no especial "Melhores de 2006", escrevi que o melhor do brasileiro, culturalmente falando, era a sua estática cultural. Dizia o artigo que o brasileiro gostava de ser inerte quanto ao que se passava à sua volta, tendo alguns relances de consciência sócio-cultural quando mexiam no seu bolso.

Infelizmente, meu artigo não serviu em nada!

Para provar minha tese com episódios recentes (já que dizem que brasileiro tem memória curta e tem, senão o Collor não teria sido reeleito), vou comentar três fatos deste final de ano que não levaram a população a nenhuma reação:

a) Renan Calheiros foi absolvido pelo Senado Federal. O que vamos ensinar aos nossos filhos? Que roubar é amplamente legal;

b) Uma menina é estuprada por 40 pessoas em uma cela que não cabem 4. Que lição tiramos disto? Que não aprendemos nada com o livro Dos delitos e das penas, escrito em 1764, por Cesare Beccaria e a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU. O primeiro filosofa sobre o valor da pena e sua função, e o segundo "regula" a base legislativa penal para assegurar a dignidade da pessoa humana, que, desde 1948, de nada serviu aos brasileiros;

c) A fraude no concurso da OAB, secção São Paulo, e no concurso da polícia rodoviária federal, o que significa, desta vez sem retórica, o jeitinho brasileiro.

A partir destes acontecimentos, este ano mudei de idéia. Não acho que a população seja estática! Acho que ela é hipócrita. Não quer ver o que está à frente dela.

Puxa vida, nada dá certo no Brasil. Continuamos diariamente bombardeados com desgraças, planos econômicos públicos que viraram planos econômicos privados e um governo que subsiste à base do populismo.

A questão é: por que o futebol é tão mais importante do que discutir e se mexer, nem que seja um pouquinho, para acabar com as barbáries? Por que na frente do "país" falamos que está tudo ótimo, mas por trás reclamamos tanto?

Tenho minhas idéias. Falta, no brasileiro, competitividade. Somos ensinados, desde criança, a competir com moderação. Falar "eu sou o melhor", mesmo que você seja o melhor, soa esnobe e não realista. Assim, nos escondemos atrás da verdade, em prol da convenção social da hipocrisia.

Há culturas, como a norte-americana, onde as pessoas são incitadas a competir sem medo de "acusar" os incompetentes. Pelo contrário, sem apontar o desqualificado a criação de valores não vai para frente.

No Brasil, somos obrigados a conviver com desqualificados e preguiçosos, pois se apontarmos que determinada questão não se desenvolveu por causa de fulano ou sicrano somos "dedos-duros".

Cuidado: ser sincero, não é ser mal educado!

Ou mudamos nosso posicionamento ou teremos que conviver com as seguintes indagações: O Senado não tem culpa dos desvios morais de Renan? O delegado que acha que a menina se insinuou para os presos, realmente acha isto? E o jeitinho brasileiro, pode prejudicar a tudo e a todos?

A resposta: Sim, em nome da Hipocrisia! Chega de passar a mão na cabeça das pessoas...

Vamos tirar nossas máscaras!

Daniel Bushatsky
21/12/2007 às 11h44

 

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