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Quarta-feira, 19/3/2008
Resposta a Ademir Assunção
Julio Daio Borges

Caro Julio,

Recebo com frequência seu
Digestivo Cultural e já notei, em diversas ocasiões, que você é um crítico das idéias do Movimento Literatura Urgente. Como um jornalista munido de espí­rito democrático, tenho certeza que é seu caso, talvez fosse interessante ouvir o "outro lado".

Talvez você não saiba mas também sou jornalista. Já fui editor de polí­tica na
Folha de Londrina, pauteiro da "Ilustrada", repórter e redator do "Caderno 2" do Estado de São Paulo, repórter da Jornal da Tarde, da Revista Veja São Paulo, enfim, de alguns dos grandes jornais de São Paulo e do Brasil. Atualmente sou editor da revista literária Coyote, que talvez você conheça. Além disso, sou poeta, com cinco livros publicados (três de poesia, um de contos e um romance).

Estou completamente convicto da legitimidade das propostas e reivindicações do Movimento Literatura Urgente — embora, no momento, não tenha muito tempo de continuar nessa militância, pois estou envolvido com projetos pessoais.

E se você tiver interesse em conhecer melhor o Movimento, estou a disposição para qualquer esclarecimento. Pode perguntar o que quiser, pois, repito, estou convicto de nossas propostas. Talvez seja interessante levar aos seus leitores a visão do "outro lado", para que eles tirem suas próprias conclusões.

Cordialmente,

Ademir Assunção, por
e-mail

* * *

Olá, Ademir, tudo bem?

Bom, antes de começar, vale dizer que, pessoalmente, não tenho nada contra você, nem contra o seu trabalho como jornalista ou, ainda, algo contra a sua obra como escritor... Em mais de cinco anos recebendo livros de editoras, é bem possível que eu já tenha cruzado com alguma produção sua, mas confesso que não me chamou a atenção (senão já teria escrito sobre).

Agradeço o elogio à minha postura democrática e reforço que, justamente por causa dela, talvez minhas opiniões, sobre o Movimento Literatura Urgente (MLU), não sejam as únicas no site; talvez predominantes (em número), mas nunca impostas de minha parte. Todos, no Digestivo, são livres para escrever e, inclusive, temos signatários do Literatura Urgente entre nossos Colaboradores...

Portanto, ainda antes de entrar nas questões específicas do MLU, respondo que os Leitores do Digestivo Cultural têm, sim, a oportunidade de "conhecer o outro lado". Tanto pelo "lado" dos demais Colaboradores do Digestivo (são algumas centenas já; fora os milhares de Comentadores), quanto pelos links dirigidos a vocês, que faço questão de colocar toda vez que menciono ao Literatura Urgente.

Logo, entendo a sua preocupação, mas, além de achar que não ignoramos o "outro lado", me incomoda o fato de vocês, num espírito típico da "Geração 90", perseguirem a unanimidade. O Movimento Literatura Urgente, felizmente, não é unânime, e nem nunca será unânime (pelo bem da democracia, aliás). Assim sendo, penso que tenho o direito de criticar e de tirar as minhas próprias conclusões. Sempre.

Entrando, agora, nas minhas discordâncias, são basicamente três (como já expus, de uma maneira ou de outra, em diversas ocasiões): 1) não acho que escritores, quaisquer, devam ser sustentados/remunerados pelo estado; 2) não acredito que a literatura, como arte, se beneficie desse tipo de procedimento; 3) não sinto que a Geração 90 esteja habilitada, literariamente até, para falar em nome dos escritores do Brasil, nem para dirigir esse tipo de movimento e nem, muito menos, para representar a "classe" de alguma forma.

Não sei se estou disposto a entrar nos pormenores de cada item. É, no caso de 1 e 2, uma questão de convicção. E no caso de 3, uma questão de avaliação — pelo que li da Geração 90, por exemplo. Não espero que escritores brasileiros deixem de ser sustentados/remunerados pelo governo (só por causa do que eu escrevi), nem que a Geração 90 deixe de querer "liderar", digamos assim, os escritores contemporâneos, mas posso expressar sempre a minha discordância. Não posso?

Agradeço a deferência, mas continuo defendendo a minha posição (e a do Digestivo).

Um abraço cordial,

Julio Daio Borges
19/3/2008 à 00h16

 

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